sexta-feira, 25 de setembro de 2015

De carona - uma crônica sobre a felicidade do outro.




Já sentiu uma felicidade descarada, desmedida e meio doida? Já misturou lágrimas e sorrisos na mesma feição e ficou meio sem conseguir explicar o motivo? Já experimentou uma alegria daquelas de cor berrante, com estampa de bolinha? Já? E já provou a loucura que é sentir tudo isso pela felicidade de outra pessoa? É o que eu estou sentindo agora, leitor querido. Uma amiga vai se casar amanhã e eu não poderia estar mais feliz!

Entendo que possa soar estranho, isso de ficar tão feliz por uma realização que não é minha. Não sou eu quem vai envergar o vestido, nem carregar o bouquet. Não há nenhum príncipe à minha espera e não, não há trilha sonora de filme de comédia romântica separada para a escritora aqui. Às vezes a vida da gente vira uma bagunça só e não sobra muito espaço pra comemoração. São fases, claro. Toda boa mudança mexe em algumas gavetas. A parte boa é: tanto faz o número de perrengues com os quais estejamos lidando, sempre há motivos pra gente se alegrar. Eles estão lá, se a gente tem olhos pra ver. A felicidade alheia é um carro em movimento e devo dizer: nada nos impede de pegar uma carona.

Sabe, leitor, a alegria do outro pode ser - e muitas vezes é - uma fonte de felicidade para nós. Ver o outro feliz significa a vitória do amor e da esperança sobre esse mundo duro. Enxergar o triunfo no olhar do outro me faz saber que não importam as dificuldades (todos as tivemos, temos ou teremos), um dia tudo vira júbilo. Tudo é passível de transformação e de ser transmutado em aprendizado e alegrias futuras. Porque a vida pode ser bem generosa com quem vive pelo amor.

 É clara a memória do dia em que eu abri a boca e disse "você sabe que vai se casar com ele, né?". Não que eu queira me gabar por ser uma boa apostadora, mas estou absurdamente feliz por ter acertado. Estou transbordante por ver que todo o sentimento que eu presenciei foi capaz de se fortalecer, lançar raiz, superar limites e frutificar. Estou enlevada por saber que enxerguei certo, que é mesmo amor a ternura que vi nos olhos dos dois. É bom reconhecer a nobreza de intenção, de atenção e a sublime ação de Deus na vida de quem ele ama.

A felicidade de quem a gente ama faz algo como cócegas na alma da gente. Traz um sentimento bonito de ser feliz pelo outro. Prova a existência de saída para as lutas do cotidiano. Esfrega na cara da gente que entre os semáforos fechados, as buzinas soando, os prazos findos, as promessas quebradas e as infinitas crises em mil esferas desse mundo, tem gente sendo feliz sim, senhor! E saber disso é fundamental.

Poly e Fábio, sejam felizes. Tanto quanto possam; nunca menos que isso. Estejam juntos e continuem construindo essa história linda, de encher os olhos da gente.

Um beijo gigante da Dinda.
Fê Coelho.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Das gavetas



Alguns textos, confesso, foram destinados às gavetas. Alguns escritos são meus, tão profundamente meus, que se recusam a conhecer as pessoas. São palavras que não cabem na vastidão do mundo interior, que se perdem na agonia de não ser e acabam rompendo caminho dedos afora. Mas feito isso, simplesmente não sabem mais pra onde ir.

Ah! mas essas palavras, atrevidas e melindrosas, se fazem escrever só para se afirmarem; só para mostrar quem manda mais. E depois de escritas se fecham num silêncio devoto, numa timidez infinita, e acabam se escondendo atrás de um outro texto qualquer.

Ah! Se elas aceitassem o olhar do outro... Ah! se decidissem passear gaveta afora. Quem sabe seriam mais felizes, quem sabe mais leves. Quem sabe encantassem mais que outras. Porque são belas. Como são belas, as danadas! Escritora desonesta? Não creio que seja esse o caso. Talvez sejam as palavras que são honestas demais, puras além da conta, desprovidas da couraça de conveniência que vai bem com esse mundo. Talvez sejam palavras em carne viva, que simplesmente estão desprotegidas demais para enfrentar o espaço além da gaveta.

Todo escritor, creio eu, tem seus textos frágeis. Todo mundo tem suas palavras de fio desencapado, prontas pra ferir. E todo mundo tem suas linhas tortas. Cada pessoa guarda sua coleção de verdades inconfessas, de mágoas bem acolhidas e de sonhos embrionários que precisam de proteção.

Todo mundo tem uma parte de si que se mostra e uma que se oculta. Uma verdade que se encolhe e outra que se espreguiça. Cada um tem sua névoa, sua quota de bruma. E somente alguns - os mais brilhantes, os mais libertos, os mais ousados - conseguem trilhar seu caminho para além de tudo isso.

Parte de mim inveja essa capacidade; outra parte comemora. Parte de mim admira, outra parte se atemoriza.

E sinto-me gestante dos textos que não querem nascer.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sobre Quebra-cabeças e a Vida

Dia desses, pensei que viver é algo como montar um quebra-cabeça sem nunca ver o desenho na caixa. Peça vai, peça vem, a gente vai montando os dias sem nunca saber ao certo o que vai ser. Podemos imaginar, supor, tentar prever. Todavia, o desenho completo, colorido e rico, só nos é apresentado lá bem longe,  onde a vida faz a curva.

Não nos é dado antecipar o quadro pronto; apenas uma pecinha por vez. Um dia, um sorriso, um encontro, um curso, uma decepção, uma coisa de cada vez. Cada novidade, uma peça que tentamos encaixar sem saber muito bem a que parte do todo ela pertence.

E assim vamos vivendo, comemorando cada parte que se encaixa e lamentando tudo aquilo a que não conseguimos dar sentido.

E nesse ponto vale a experiência daqueles cujos quebra-cabeças já estão mais adiantados: algumas partes não se ajustam agora, mas logo se adaptarão. Vale entender que alguns momentos parecem desconexos pela falta do que ainda virá,  do que trará o sentido a esse desenho parcelado a que chamamos vida.  Vale compreender a arte da espera, a habilidade de não insistir na peça que teima em não servir. É necessário entender o processo e saber que tudo tem o lugar e o momento oportuno.  A gente só não sabe qual é ele. Pelo menos não até que a conexão se apresente.

E não adianta tentar se guiar pelo quebra-cabeça do vizinho. O desenho dele é outro, com cores diferentes e pedaços diversos.  Ele não é mais bonito ou menos interessante; é apenas feito para outra pessoa. E, exatamente por isso, seria uma tolice sem tamanho montar a sua vida como se fosse a de outro alguém.

Talvez a tal felicidade passe por isso: encaixar cada peça da vida com alegria,  na certeza de se tratar de um momento único.  Porque a cada pedaço da vida que juntamos, solidificamos o passado. E esse, meu bem, não muda nunca.

O que quero dizer é que,  no fim das contas, não há garantias. Nunca houve. Tudo o que sabemos é que vivemos de não saber. Nos arriscamos na expectativa de que, afinal, sejamos um desenho bonito. E que nossa vida seja um quebra-cabeça que valha a pena ter sido montado.

Beijinhos
Fê Coelho.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Sem parar


 O mundo não para,  é o que dizem. Óbvio em certa medida; cliché, até.  Todos sabemos disso, embora só venhamos a experimentar essa realidade quando gostaríamos que ele parasse.
O mundo não para. Por ninguém, nem para ninguém. Ele não para para assistir às grandes tragédias, nem aos pequenos dramas. E não diminui o ritmo para que se aliviem as dores ou se celebrem as vitórias.
O tempo vai.
A vida continua a florescer e a se esvair. Pessoas se encontram e se perdem. Laços se criam e se desfazem e o mundo continua. As buzinas soam, os despertadores tocam, a bolsa de valores sobe e desce, as agendas se cumprem.
E lá se vão os dias .
Porque a vida é algo que,  contrariando todo nosso sentimento de proteção do ego, acontece apesar de nós.  A vida segue. Ela sempre continua o seu curso. Ela não pode esperar que tenhamos revisado todas as boas e más notícias para acontecer. O presente urge em ser passado. Assim como o futuro insiste em se tornar presente.
E dessa forma os passantes seguem ruminando suas questões, enquanto vão vivendo. E vão juntando seus pedaços da melhor maneira possível - entre uma reunião e outra, entre um e outro momento. 
Porque o mundo, ah!, esse não para nunca.
Então talvez o processo de se refazer seja algo como o de pegar folhas caídas numa grande avenida: recolher o que for possível enquanto o semáforo estiver fechado. Talvez a gente se refaça entre um carro e outro, aos sopetões, ou talvez com calma, juntando aqui e acolá o que for possível.  E a gente se refaz sabendo que algumas folhas o vento sempre leva consigo.
E o segredo pode estar em deixá-las ir para que se possa juntar o restante.
O mundo não para nem pela dor, nem pelo amor. O mundo não para, não volta e nem se adianta. Ele simplesmente nos oferece a inacreditável oportunidade de seguir com ele e ver o que acontece depois.
Ora, e o que é a vida, senão um grande convite?
Beijinhos
Fê Coelho.

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