terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ter, escrever, plantar e mais. Bem mais. - Uma crônica sobre amizade.



As pessoas dizem por aí que todos deveriam, antes de morrer, ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Na condição de quem já realizou todas essas coisas, posso acrescentar um item? Todas as pessoas deveriam cultivar um grande amigo. Pode ser que eu não me tenha feito compreender. Veja bem: não estou falando dessas amizades amarelo-bebê. Refiro-me a uma amizade daquelas ímpares, que não se encontram em qualquer lugar.

Toda pessoa deveria experimentar ter um amigo que diga exatamente a verdade, porque se importa realmente com os efeitos do que for dito. E deveria também ter alguém com quem seja possível ser absolutamente sincero. A comunicação limpa é um presente muito maior do que se possa imaginar. É prova de consideração, respeito e cuidado. Ser honesto é mais do que simplesmente dizer verdades piedosas: é falar aquilo que pode não agradar, mas que certamente fará crescer. Pessoas assim, autênticas, são raras e devem ser cultivadas.

Todos nós deveríamos ter a chance de saber o que é estar longe de alguém durante muito tempo e, no reencontro, sentir que é como se não houvesse passado quinze minutos. Numa época de tantas mudanças, de tantos aplicativos e atualizações, a estabilidade é uma benesse. Faz diferença ter alguém que nos conheça a fundo, que nos ame e para quem possamos entregar amor. Faz bem ao coração saber que existe alguém nesse mundão velho sem porteira que combina com você - não importa a imagem que o espelho mostre.

Todo mundo merece uma pessoa com quem possa rir até a barriga doer e chorar até quase virar do avesso. Grandes amizades não se fazem com conveniências. Elas transitam pelos extremos, pelo desvario e voltam ao centro, para onde há calma e concórdia; onde amadurecem e se transformam em dias, meses e décadas.

E não se engane: um grande amigo não lhe tira coisas. Ele não lhe tira a paz, a confiança ou a auto-estima. Um grande amigo não lhe tira relacionamentos, ou chances. Ele agrega. Um grande amigo permeia a vida de uma pessoa de forma tão sublime que dificilmente a explicamos. O que quero dizer é que em termos práticos, o que se observa é que amizades verdadeiras não excluem pessoas ou impedem o crescimento. Elas, ao contrário, vão se moldando e se transformando com os movimentos da vida - movimentos esses que são feitos juntos. Porque muito mais que apoiar nos fracassos, um amigo de verdade comemora e convive com as vitórias do outro.

Nem todos plantaram árvores, tiveram filhos ou escreveram livros. Assim como não posso afirmar que todos tenham experimentado essa forma de ser amigo. O que sei - e talvez o leitor concorde comigo - é que amizades assim são um tesouro grande demais para se passar a vida sem conhecer.

Na esperança de que todos encontrem e cuidem bem do seu tesouro, me despeço.
Beijinhos,
Fê Coelho.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ser ou estar?



Hoje me ocorreu algo que ainda não havia percebido: o quanto discordo da clássica pergunta "o que você vai ser quando crescer". Eu mesma já me fiz essa pergunta em outras ocasiões, quando pensava - em vão - que havia crescido o suficiente para respondê-la. Dirigindo para casa hoje, enquanto olhava as curvas da estrada e os montes muito à minha frente, compreendi que crescer é muito mais um processo do que uma finalidade.

Não concordo com esse hábito que temos de classificar o crescimento como um ponto fixo a ser alcançado, como um trono onde se assenta e reina para sempre. Crescemos toda vez que fazemos uma escolha, mas principalmente quando lidamos com os resultados dela advindos. Crescemos quando aprendemos a valorizar as pessoas que vivem ao nosso redor e quando compreendemos que amar é mais que apenas estar ao lado. E quem dirá que não crescemos quando as lágrimas percorrem seu curso? Muitas vezes o sofrimento é professor mais eficaz que a bonança.

Com tudo o que vejo, cresço um pouco mais - em memórias, em conhecimento, em ideias e num tesouro que é só meu. Cada abraço que recebo ou distribuo me torna maior em afeto; a cada sorriso, cresço em contentamento. Cada nova pessoa que passa a compartilhar de meus dias acrescenta vida a eles. Cada música que ouço me faz crescer em emoções. Toda risada me faz ser maior. Toda vez que me doo, cresço. E a cada perrengue que enfrento, cresço em possibilidades de resistir.

Crescer, às vezes, dói. Incomoda. Assusta. Sempre foi assim - vide o primeiro dia de aula, o primeiro emprego, o primeiro beijo e outras tantas estreias. Enfrentar aquilo com que não ousamos sonhar é uma das formas mais bonitas de crescer e uma das mais difíceis. Aceitar que não estamos prontos requer humildade para nos reconhecermos pequenos. E talvez nisso resida a verdadeira grandeza.

Pode ser que eu esteja errada, como tantas vezes já estive. Quem sabe, essas ideias de hoje sejam apenas um sopro, um vislumbre de algo maior - que eu, em minha pequenez, ainda não consigo compreender. Perdoe-me o leitor, se me perceber no engano. Todavia, tenho cá comigo, hoje, a impressão de que não importa tanto assim o que queremos ser quando crescermos; interessa, sim, saber como queremos estar, enquanto crescemos.

Beijinhos
Fê Coelho.
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