sábado, 31 de dezembro de 2011

Fica? Não fico!



O que se pode fazer com o último dia do ano? Como aproveitar o derradeiro suspiro do calendário que derrubou todas as folhas, uma a uma, numa cascata de vida? O que fazer com a sensação de que o dia deveria durar mais que o previsto?

Agora, assim, na foz do ano, no momento em que ele desemboca na memória para virar lembrança e ensinamento, bateu uma nostalgia danada. Veio uma sensação esquisita de despedida, que eu nunca havia experimentado. Deu aquela vontade de permanecer e eu pedi.

 "Fica, 2011, que a gente ainda tem muito pra conversar. Não vai embora, assim, de uma vez. Senta um pouco e come um pão de queijo quentinho. Fica porque, embora você tenha sido muito bravo, eu aprendi muito. Vamos aproveitar só mais um pouquinho... E não, não faz essa cara de estressado, de pai que chegou na festa de adolescentes no horário combinado e vai ter que esperar mais meia hora no carro, pro filho tentar a sorte com a menininha de vestido rosa. Não olha pra mim desse jeito. Só fica mais um pouco. E se 2012 for carrancudo? E se ele não gostar de mim? E se ele puser o pé na minha frente, pra eu cair?"

E ele me respondeu.

"Deixe de bobagem, menina. Eu vou pro passado, pro lugar que é dos dias vividos, das boas e más lembranças. Vou pro tempo, pro baú. Me deixa passar, querida, que eu já dei o que tinha que dar. Não me prenda, nem se prenda a mim. Tenha coragem, porque se 2012 for bravo, de bravura você entende. Olhe para a frente, ponha um calendário novo na parede, passe as folhas com gosto e faça planos. Veja a vida se abrindo  adiante, num caminho que só depende da maneira que você escolha trilhá-lo. Mas não faça nenhuma lista. Elas são a melhor forma de se irritar um ano. A gente já começa com aquela responsabilidade de atender às suas expectativas e isso, convenhamos, é um saco! Seja justa com o próximo ano. Aceite-o, entenda-o e acolha-o, dia após dia, a cada folha que cair. Faça isso e vocês serão bons amigos".

Fiquei ansiosa e meio amedrontada. Só por garantia, resolvi perguntar: "Acha que eu consigo?"

 2011 me sorriu com uma cara levada, de menino custoso que sabe o jeito de aprontar e respondeu: "De uma coisa eu tenho certeza - você vai fazer o melhor que puder. Sabe por que? Porque você não sabe fazer diferente. Agora chega de besteira e me deixa ir. Não seja tão egoista."

Quando a última folha do calendário ameaçava cair, tentei uma última pergunta: "E o que eu faço com esse dia?"

O ano suspirou. "Faça o que te mais te deu prazer, minha flor. Acorde cedo, veja o dia clareando, caminhe no parque, faça um arrastão na casa, tire tudo o que não serve mais, ajeite os cabelos, coma algo gostoso e acredite. Acreditar foi o que você fez de melhor durante o tempo em que estivemos juntos."

E eu entendi que alguns anos são realmente especiais. Os que conversam com a gente, então, nem se fala.

Desejo a todos vocês um 2012 que converse, que sorria e esperneie. Desejo um ano que os faça sentir vivos, alerta e conscientes. Desejo um ano de realizações e de reconhecimento dos momentos felizes.

Beijo enorme pra todo mundo que me acompanhou neste ano tão querido.
Até 2012
Fê Coelho


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sobre Tormentas e Coragem



Embora seja matéria de extrema importância, os balanços de final de ano costumam ser tratados com uma superficialidade irritante. Amiúde, vemos as pessoas rotulando  como simplesmente"bom" ou "ruim" um período de 365 dias, em que ocorreram coisas a perder de vista, com desdobramentos que certamente influenciarão todos os próximos anos. Triste é ver que muitas pessoas, ou não percebem, ou se esquecem disso.

Teoria do caos à parte, vou escolher uma palavra para definir o que 2011 foi para mim: especial.

Esse último ano foi de muito crescimento e aprendizado permeado por muitas alegrias e tristezas. Foi um ano em que as perdas se tornaram ganhos e os dias torceram-se em seus próprios eixos de uma maneira vertiginosa, para mostrar-me algo melhor. 2011 foi o ano em que descobri algo inimaginável: sou fã das tempestades.

Não me entendam mal: não gosto de sofrer. Acontece, apenas, que descobri o poder criador dos problemas. Entendi a maravilha que se esconde nas adversidades, nos dias em que lutamos para seguir.

Fazendo um paralelo simplório e bem usado (mas que me parece o mais ilustrativo) entre a vida e uma embarcação no oceano, talvez eu consiga explicar meu ponto de vista.

Todos sabemos que há anos mais tranquilos e outros mais turbulentos. Os seres humanos que já passaram pela adolescência têm uma consciência aguda desse fato. Alguns períodos da vida são de calmaria, águas  tranquilas, vento suave e pequenas ondulações. São dias de sol em que nos permitimos apenas boiar, ao sabor da tranquilidade e dos sorrisos. Sentimo-nos, então, felizes e realizados. Tranquilos, aproveitamos a bonança e traçamos planos para um futuro ensolarado e florido de belos dias. Acontece que o vento manso não traz tensão às velas. A calmaria não direciona a embarcação e corremos o risco de ficarmos perdidos nessa zona de conforto, de não seguirmos viagem, de não progredirmos. Arriscamo-nos a apenas existir, sem, contudo, viver efetivamente.

As tempestades, por outro lado, sacodem o barco, tensionam as velas e nos impulsionam. É um período difícil de se tolerar. São dias em que muitas coisas se quebram ou se perdem, lançadas para fora da vida pelos fortes ventos e pelas ondas. São momentos de caos, chuva e ventania. É quando só permanece de pé o que for realmente sólido, o que foi bem-feito, bem-construído.

Nos momentos em que a vida sacode, descobrimos quem é realmente forte, porque há duas opções apenas: o desespero e o manejo do leme. Algumas pessoas escolhem o lamento e fazem da sua própria vida uma tormenta amplificada, com ondas muito maiores do que as que realmente se levantam. Outras, as minhas preferidas, tomam o leme nas mãos, brigam com as ondas e fazem de sua existência o melhor que puderem. São pessoas que não se deixam abater pelos ventos e que não se assustam com o barulho dos trovões. Não que não duvidem ou que não sintam medo, mas essas pessoas sabem que não fazer nada é sempre pior.

E nessa hora a maravilha acontece. Porque a vida premia os corajosos com a vitória, a paz ou apenas o conhecimento, não importa. Fato é que os que se atrevem a erguer a cabeça nos momentos difíceis acabam vendo além das brumas. Quem permanece lutando com os ventos, firme no leme da própria vida, é impulsionado para frente, para um lugar melhor, longe dos destroços de uma vida estagnada.

Este ano foi de tormenta. Houve dias extremamente difíceis, mas em todos eles eu pude ver um objetivo e de todos eles eu pude tirar um aprendizado.

E o maior ensinamento de todos, aquele que gostaria de compartilhar com vocês nesse final de ano é o seguinte: quando a vida sacode e os problemas se levantam, coragem. Quando a tormenta chegar, sejam firmes. Quando os dias forem difíceis, tenham esperança. Porque a vida premia quem se atreve a vivê-la e recompensa o esforço de quem não se deixou vencer.

Que 2012 seja um ano de muitas realizações e vitórias para todos.

Beijinhos
Fê Coelho.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre marketing e germes



Começou a temporada de crônicas sobre o natal, a beleza das festas de fim de ano e os balanços-gerais acompanhados de metas para o ano que vem. A despeito disso, e talvez por isso, resolvi não escrever sobre esse tema específico. Pode ser que eu chegue lá. É provável que escreva uma carta ao Bom Velhinho, solicitando a bondade de não me presentear com meias e lenços (devido à aquisição de habilidades masculinas, tais como consertar varais, desentupir pias e ralos, entre outras coisas). Fato é que, no momento, não tenho a pontinha de uma unha de vontade de escrever sobre o final do ano. Ao invés disso, resolvi falar sobre a eficiência da equipe de marketing das marcas de sabonete antisséptico.

É de conhecimento público que foi declarada uma guerra aos germes. Bactérias que sempre conviveram em paz com os humanos e até ajudavam a proteger a pele - a chamada microbiota residente - foram colocadas num regime de apartheid asséptico nunca antes presenciado. As propagandas ressaltam a necessidade de exterminar as bactérias de todas as superfícies, ambientes, centímetros de pele e sabe Deus mais de onde.

E aí vem o golpe de mestre: colocar as propagandas em canais infantis! Essa foi a ideia do século, uma que vem sendo utilizada em campanhas educativas diversas, mas não em veículos de comunicação tão eficientes como a televisão. É sabido, o poder de convencimento que as crianças têm sobre os pobres (e ávidos por agradar) pais. Tanto é, que as escolas são alvos de campanhas para conscientização sobre doenças, hábitos de higiene, alimentação e educação no trânsito. Sabe-se que uma criança convencida de uma ideia vai aporrinhar todos os adultos num raio de cinco quilômetros de alcance, até conseguir alguns adeptos.

Dessa estratégia decorrem súplicas e mais súplicas no supermercado, para que os genitores comprem o sabão em pó X, o sabonete Y e o desinfetante Z. O motivo? "Ah mamãe, esse mata meeeesmo os germes". Eu sempre resisti bravamente. Acho um pouco desnecessário essa coisa que querer pôr o mundo inteiro numa termodesinfectora. Provavelmente por birra não compro os tais sabonetes, a menos que tenha um bom motivo - como quando minhas filhas tiveram catapora. Naquela ocasião, as bactérias seriam ruins. Em outras, o que não mata, fortalece.

Acontece que fomos ao parquinho de areia, eu, minhas filhas, minha irmã e meus sobrinhos. Na volta, ao chegar à casa da minha irmã, fui dar um banho nas crianças. Preciso contar uma coisa: "de mamando a caducando", todas as quatro crianças comemoraram o fato de que iam tomar banho com o tal sabonete antisséptico da tampa vermelha. Não parecia um banho, aliás. Era, antes, um batismo de limpeza, uma passagem de uma vida com germes para outra sem eles.

Fiquei de queixo caído com a adesão das crianças à propaganda. Tanto que precisei experimentar. Eu tinha que saber o que acontecia. Esperei, inclusive, que saíssem fagulhas ou tocasse uma musiquinha ou algo do tipo. Mas nada aconteceu. Continuei com a pele sobre o tecido subcutâneo e este sobre os músculos que se inserem nos ossos. Não fiquei mais bonita ou mais rica. Não fiquei mais saudável, nem mais doente.

OK. Escritora de pouca fé. As bactérias são invisíveis a olho nu.

Concordo, mas recuso-me a acreditar que fui enganada durante tantos anos. Quer dizer, por duas décadas - quase três - acreditei que ficava limpa tomando o bom e velho banho com bucha e sabonete comum. O que foi feito disso agora? Será que eu passei a vida suja, ou as coisas estão tomando um rumo exagerado hoje? São respostas que eu não tenho para fornecer. Tenho cá minhas suspeitas, que provavelmente não poderiam ser expressas sem o risco de um processo.

Uma coisa é certa: das crianças que eu conheço, uma boa parte passou por uma lavagem cerebral antisséptica.

Beijinhos
Fê Coelho

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sobre a saudade



Sou, das pessoas que eu conheço, uma das que mais sente saudade. Claro que, devido à natureza absolutamente subjetiva da matéria avaliada, meu julgamento é tendencioso. Se eu me importo? Nem um pouco. A saudade é minha e, quando eu a estou sentindo, posso dizer que é infinita.

Sinto saudade das pessoas, dos lugares, dos dias. Sou saudosa dos rostos, do toque, das frações de segundo. Revivo pequenos momentos com a intensidade de uma primeira vez constante. E me permito sentir saudade.

Por que faço isso? Ah! Porque saudade é uma forma de prazer. É um jeito de reviver algo que foi bom, que me fez feliz. É uma maneira de estar ali de novo, de lembrar e de estar perto. É uma coceirinha boa na alma, algo que nos faz lembrar de que fomos felizes e que ainda podemos ser.

Saudade faz suspirar. Faz o coração disparar sem motivo e a respiração acelerar de levinho. Saudade faz a gente se perder em pensamentos e perder o fio da meada - o que, em alguns momentos, é tudo o que se quer. Saudade permite que a gente fuja para longe, para um lugar onde o coração fique em paz, embalado para presente.

Uma pessoa não sente saudade de coisas ruins. De maneira que a saudade que dói é aquela que a gente sente daquilo que nunca foi. E essa é dispensável, porque não é verdadeira. As outras são todas bem-vindas: da infância, dos entes queridos, dos amigos, das realizações e das sensações.

A saudade é uma forma carinhosa de ver a própria vida. É um jeito sutil de se elogiar pelo bem-viver, pelo bem-querer e pelo amar. A saudade é um jeito de deixar a alma voar, linda, livre e pacificamente, para um lugar bonito chamado lembrança.

Beijinhos
Fê Coelho

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Escrever: Deus do céu, eu faço isso!



Hoje um pensamento tirou-me o fôlego, quando estava na fila do refeitório, às doze horas de uma quinta feira qualquer. Fitei o céu separado de mim pela vidraça, pelo uniforme, pelo relógio de ponto e me perguntei: por que diabos uma pessoa escreve?

Sei que essa é uma pergunta terrivelmente redundante. Mas ela foi tomando forma, peso e importância; foi espiralando em minha mente o suficiente para não me permitir almoçar. E peguei-me a pensar: "Deus do céu! Sou uma dessas pessoas! Sou uma dessas pessoas que se aventuram a digitar pedaços de alma, que se permitem mostrar, letra a letra, a pessoas que sequer conhecem. Faço parte do time das mentes que entregam a única coisa que não pode ser acessada a menos que se revele: o pensamento".

Ah, o pensamento! Esse reduto de tudo o que há de mais seguro, de mais íntimo. O pensamento, lugar recluso, onde se pode ser o que se quer, onde se pode colocar tudo o que foi e não foi; onde ficam as aspirações, opiniões, sonhos, mágoas e as verdades que não se quer (ou não se pode) dizer. As ideias! O que há de mais subversivo, de mais revolto e impalpável. Porque os lábios podem dizer o que quiserem. Podem confessar o que for conveniente e calar o essencial, jogando para dentro - lá para as ideias - o real significado. E isso, por si só, é um ato de silenciosa rebeldia. Quer dizer que podemos nos enquadrar e ainda assim voar por dentro. Significa que podemos ter as dimensões mais adequadas aos olhos alheios e conter inúmeros mundos longe do que os olhos podem ver.

E foi o que me atrapalhou a respiração e a quietude: por que uma pessoa entrega isso aos outros? Por que se submete ao olhar juiz de pessoas que não conhecem sua essência ou sua história? E pensei novamente: "Deus do céu, eu escrevo! Eu faço isso!" E senti-me tão pequena e desprotegida. Senti-me nua em meus sonhos, transparente em minha maneira de ver a vida, entregue em tantas verdades quantas meus dedos puderam digitar.

Tive medo. Fiquei ansiosa. Pensei. Perdi a fome. Por fim, me conformei.

Acontece que a escrita existe quando o sentir transborda, quando não há mais maneira de segurar as ideias na vastidão do mundo interior. Escrever é quando as palavras se sacodem tanto dentro da gente, que prendê-las seria violentar a alma. Acontece que quem escreve o faz por não sentir escolha, por não ver outro modo de se livrar da angústia que é não o fazer.

Vou te contar um segredo: às vezes as palavras se tornam  atrevidas borboletas em nosso estômago e não há o que fazer, a não ser permitir que elas voem.

Beijinhos
Fê Coelho

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um semáforo, algumas memórias e a vida



Escrever é algo realmente curioso: você passa dias procurando um motivo e ele te encontra, assim, de graça, num semáforo, enquanto dirige para buscar a mãe no trabalho. Ou seja: os motivos para escrever estão onde menos se espera. E foi o que ocorreu hoje. O gatilho dessa crônica é - pasmem - uma fonte luminosa. Não uma fonte qualquer:  a situada na praça que hoje leva o nome de Deputado Abílio Wolney, mas que há alguns anos (não entremos em detalhes) recebia a alcunha despretensiosa de Praça do Ancião.

Recordei-me, nesse pequeno momento entre a luz vermelha e a verde, das tardes gastas andando de patins na praça. Lembrei-me da sombra, das árvores e do algodão doce aos domingos. Relembrei a estátua austera e - de alguma maneira - frágil do ancião no centro da praça e os leões localizados em outro ponto, de cujas bocas deveria saltar água, mas que a bem da verdade só serviam para me assustar. Revivi a sensação infantil de descoberta e de liberdade, de estar em um dos melhores lugares do mundo. E quase pude ver novamente uma das imagens que eu sempre supus ser o retrato do bom entendimento entre cônjuges: minha mãe deitada no banco da praça, com a cabeça no colo do meu pai, resolvendo palavras cruzadas, enquanto ele prestava atenção a ela, às letras, aos filhos e distraidamente fazia um cafuné.

E pensei sobre as missas de domingo, depois das quais a pipoca nos aguardava; sobre a macarronada com queijo ralado e o refrigerante caçulinha; sobre as vezes em que brincamos de baralho, chicote queimado ou qualquer outro jogo com meus pais. E dei-me conta de que embora nossa infância não tenha sido luxuosa, foi  confortável. Tivemos anos pródigos em amor, em uma convivência próxima e acolhedora, em uma sensação ímpar de pertencer, de ser aceito pelo que se é. Tivemos, eu e meus irmãos, uma criação baseada em verdade e respeito, em coisas que não se passa por método diferente da experiência (no sentido de experimentar, mesmo).

Refleti, nesse pequeno instante, entre o trocar de luzes, sobre o quanto essas coisas foram determinantes para que eu seja quem sou - como ser humano, mãe, profissional e (por que não?) escritora. E cheguei à obvia e feliz conclusão de que meus passos foram guiados por sorte e amor, livre de alguns percalços, vítima e agente de outros.

Foi quando aconteceu algo que me faz muito feliz: senti-me absolutamente grata por minha vida e pelo amontoado de acontecimentos que sou. Senti gratidão pela minha história, por meu aprendizado e pelos dias que ainda virão. Sorri, desejei sinceramente que todas as crianças possam ter uma infância como a minha, vi a luz verde no semáforo, engatei a primeira marcha e segui a vida. Tudo como deve ser.

Beijinhos
Fê Coelho

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quando descobri o prazer de ler



Quando descobri o prazer de ler, um mundo novo se abriu para mim. Passei a ver coisas que não via, a observar a vida de uma maneira que jamais poderia supor. Entendi porque algumas pessoas sorriem do nada e porque eu sentia a mesma vontade: é que a alma precisa voar e não há voo tão suave quanto aquele feito por asas leves, emplumadas de palavras.

Quando descobri o prazer de ler, nunca mais estive só. Onde quer que vá, estarei acompanhada - por um livro, pelas lembranças dos personagens que conheci ou pela perspectiva dos que poderei inventar. Aprendi a não me impacientar com as filas ou com as salas de espera. Na verdade, todos esses momentos se tornaram uma desculpa para me desligar do cotidiano por alguns instantes.

O prazer da leitura fez de mim uma pessoa esquisita, daquelas que observam os lugares, que registram a luminosidade do dia, que tenta gravar o cheiro e a temperatura de cada ambiente. Ler tornou-me uma pessoa estranhamente sensível e cheia de ideias. Fez de mim alguém que imagina personagens nas pessoas que vê no metrô ou pelas quais passa durante uma caminhada. Ler fez de mim alguém irremediavelmente pensante. E aí danou-se.

Danou-se porque não imagino mais viver sem as palavras. Danou-se porque não posso mais me conformar com uma vida plana, isenta de entrelinhas e rasa como uma piscina infantil. Danou-se porque tomei gosto pela sutileza, pela leveza e pelo colorido que só as palavras bem escolhidas podem proporcionar. 

Não digo que não poderia viver sem as palavras. Eu poderia fazer isso. A questão primordial, entretanto, é a seguinte: eu não quero. Não quero abrir mão do suspiro ao encerrar a última página de um livro, nem da saudade que tenho de meus personagens favoritos. Não quero viver sem o cheiro das folhas, ou sem o prazer de apenas deixar que o mundo gire em outra velocidade ou direção, enquanto me ocupo da vida de pessoas que sequer existiram. 

E não importa que eu tenha me tornado uma pessoa destoante das demais. Não me incomoda o fato de ter me transformado numa criatura que chora ou ri às gargalhadas com um livro nas mãos. Conformei-me com essa pequena parcela de desapego da normalidade, com essa pequena fuga dos padrões. E vou além, leitor querido: desejo o mesmo a você

Desejo que você possa colecionar mundos. Desejo que você encontre  pelo menos um personagem para fazer parte de suas lembranças felizes. Espero que você consiga encontrar um cenário para surgir em seus melhores sonhos e que queira visitar novamente nas páginas de um livro muito querido. 

Espero que você consiga, leitor querido. Porque quando descobrir o prazer da leitura, você estará irremediavelmente perdido para uma vida muito mais rica, multifacetada de possibilidades.

Beijinhos
Fê Coelho

domingo, 30 de outubro de 2011

Sobre Árvores e Sonhos



Correndo o risco de me enveredar por uma lista de lugares comuns, eu afirmo: sonhos são plantas. São organismos vivos e pulsantes, que dão flores e frutos conforme as condições que lhe sejam dadas.


Alguns deles são interessantes porque nascem espontaneamente, como árvores semeadas por pássaros. A respeito desses, pode-se dizer que sua beleza reside no inesperado, em sua capacidade nata de surpreender, de surgir - distinto - em uma paisagem onde não se esperava encontrá-lo. Falo, aqui, de coisas como uma vontade súbita de comer crème brûlée em Paris, falando o idioma local, a caminho de um curso que jamais se pensou em frequentar. Os sonhos semeados por pássaros são aqueles pelos quais nunca pedimos, mas que simplesmente aparecem em nossas vidas. Surgem sem quê nem porque e apenas são, sem que se saiba de onde vieram e porque foram parar ali.


Há as aspirações que nos chegam na forma de pequenas mudas. Elas estão disponíveis para consumo, prontas para o plantio. São os sonhos que, espera-se, tenhamos - uma casa, um carro, uma profissão, talvez um casamento e filhos. Esses já vêm meio nascidos e criados, porque já foram sonhados por outras pessoas em nosso lugar. São sementes que não plantamos, mas consumimos - por vontade, necessidade ou para atender às expectativas - o que eu chamaria de "sonhos padronizados". Não se engane: por mais rebelde e original que você seja, por mais distante que esteja das convenções sociais, você vai ter um desses.


Os sonhos que escolhemos ter são aqueles cujas sementes plantamos e cujo desenvolvimento acompanhamos. Podemos, ao longo da vida, plantar várias sementes. Isso não quer dizer, entretanto, que elas chegarão a dar frutos. Recordem a experiência do feijão plantado no algodão. Alguns desejos são assim, plantados e regados, mas não têm condições para se desenvolverem a contento. Outros, felizmente, são plantados em solo fértil, em corações com firme propósito para realizar. Esses prosperam, crescem e se tornam robustas árvores frutíferas.


Considere o leitor, todavia, que nem toda árvore encontra sua utilidade na produção de frutos: algumas são destinadas a embelezar os ambientes. Da mesma maneira, alguns sonhos servem para tornar nossa vida mais colorida, mais exuberante. Destinam-se a se tornarem nossos motivos para suspirar numa tarde de quarta-feira, por exemplo. 


Não importa a finalidade, uma coisa é comum a todas as aspirações: elas só se desenvolvem mediante o cuidado. É mister dedicar tempo e atenção aos próprios sonhos, sob pena de que eles nunca passem de pequenas experiências em chumaços de algodão. É necessário que se dê aos sonhos aquilo de que eles precisam para se tornarem fortes e robustos, para que sejam mais que pequenos brotos. Dê aos seus sonhos sua atenção, intenção, firmeza de caráter e liberdade. Dê a eles espaço para crescer e eles tornarão sua vida mais colorida, rica e interessante - para dizer o mínimo.


Beijinhos
Fê Coelho

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Carta ao Senhor Futuro



Senhor Futuro

Escrevo estas linhas sem saber, a bem da verdade, que destinatário há de recebê-las. Não conheço você e acredito que nosso encontro esteja tão próximo quanto o de duas retas paralelas. Considere que o senhor está sempre alguns passos, metros, segundos, dias - que seja - à minha frente. Assim, quando chego a encontrar algo que remeta a você, é um fragmento do presente ou do passado.

Seus hábitos, Senhor Futuro, são difíceis de aceitar, para não dizer entender. Sua presença é algo invariavelmente nebuloso: ora com promessas de campos verdes e infinitas delícias, ora com ameaças de tormentas. Fosse eu um homem, talvez aceitasse o fato de que sua figura é feminina, melindrosa, faceira e perigosa - sempre acenando e piscando longos cílios de promessas que talvez nunca venha a cumprir, postando-se uma esquina à minha frente, travestindo-se a cada momento, usando artimanhas e camuflando o que há de vir.

Não se irrite com essas questões de gênero. Esse é um ponto indiferente para mim. Seja você algo feminino ou masculino, tanto faz. Só peço que seja gentil comigo, Senhor Futuro. Seja, por favor, indulgente com meus erros de agora, em consideração ao aprendizado que virá e você - muito antes de mim - tem como acessar. Não me julgue enfadonha em meus lamentos, nem excessivamente inocente em minhas alegrias. Considere que sou apenas o encontro de você, com aquilo que já foi, com o que veio sendo ao longo dos anos.

Dito isto, me surgiu uma dúvida: quem vai ao encontro de quem? Somos nós que caminhamos para você, sempre buscando, garimpando os dias vindouros; ou você que se deixa para trás, como uma trilha de momentos, procurando ser novamente, aconselhar e reviver? Você é perseguido ou se deixa atrasar?

De qualquer maneira, Senhor Futuro, em nome do Presente - momento em que fingimos nos encontrar, mas que é tão efêmero quanto o passar de uma brisa - eu peço: seja legal. Cuide para que eu tenha uma boa dose de desapego dos dias que não posso mais tocar, dos erros que já foram cometidos e de tudo aquilo que ficou na esquina passada. Providencie uma boa dose de sensatez, para que eu não pinte o Senhor Passado nem mais tenebroso, nem mais dourado do que ele realmente foi.

E quando eu chegar aí, por favor, me receba bem. Tenha a mesa posta, lençóis novos nas camas e uma rede na sombra, para que possamos apenas estar. Não tenha pressa de ir embora; não se inquiete com minha teimosia em querer saber de seus segredos. Apenas se deixe ficar por alguns instantes, Senhor Futuro, porque sua existência me fascina, porque preciso conquistar sua confiança e porque espero despertar o seu apreço.

Um beijo grande, soprado pro infinito, onde - espero eu - você possa estar.
Fernanda Coelho

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Saci e os Tempos Modernos



Já vai longe o tempo em que o Saci perdia tempo trançando crina de cavalo, fazendo as cozinheiras perderem o ponto do bolos e assustando os viajantes. Já passou a época em que ele ficava por aí assoviando, fumando cachimbo e colocando cinza em comida. Sim senhor. O mundo evoluiu e o Saci, esperto que é, acompanhou todas as mudanças.

Ele aproveitou tudo o que a modernidade trouxe de novo e associou às inovações, suas antigas travessuras. O resultado? Uma gama infinita de traquinagens que beiram a crueldade. Sim, porque se antes ele achava engraçado esconder enxadas, agora ele descobriu o prazer de esperar os últimos quinze minutos de um download enorme para provocar uma queda de energia.

O Saci ainda mantém os velhos hábitos - esconder, estragar, bagunçar e rir da nossa cara - mas agora essas atividades estão mais refinadas, por assim dizer. Se antes ele estragava os arreios e sumia os freios dos cavalos, agora ele aprendeu a sumir as chaves dos carros. Se ele se divertia fazendo vendaval em dias de varal cheio de roupa limpa, agora ele dá um jeito de soltar graxa nas roupas dentro da máquina de lavar. O danado aprendeu a descobrir quando as pessoas estão ansiosas por uma ligação e dá a dica para os operadores de telemarketing, só para ver a decepção estampada no rosto da criatura que pega o celular no susto.

Ele descobriu um jeito de estragar as impressoras exatamente quando você mais precisa delas; de sumir com todas as canetas disponíveis num raio de cinco quilômetros, quando se precisa anotar um recado urgente; de provocar engarrafamentos históricos e puxar o freio de mão de todos os carros na frente do mais atrasado da pista. O safado aprendeu a colocar o pé na frente das mulheres quando elas saem com saltos novos, de fazer as unhas recém-pintadas se encherem de bolhinhas, de bagunçar os cabelos recém-escovados e de sumir as melhores roupas quando se quer sair.

Engana-se, é bom que se diga,  quem pensa que suas atuações estão restritas ao ambiente doméstico. Num banco, ele é responsável pelas diferenças de caixa; nas ruas, ele montou Escolas de Formação de Flanelinhas; nas escolas... bem, nas escolas ele não faz nada, porque a criançada em si já deixa todo mundo doido. Ele some relatórios, acaba com o papel das bobinas nos momentos mais inapropriados, trava os computadores, entre outras maldades.

Existe, entretanto, um lugar onde ele adora ficar: enfermarias em geral. Ah, leitor querido, você não imagina o que um Saci é capaz de fazer em uma enfermaria. Ele dança ciranda entre as camas e vai aprontando: aperta os botões das bombas de infusão, de maneira que todas apitem ao mesmo tempo; belisca as crianças, de maneira que todas chorem em uníssono; joga pó de vômito para cima, de maneira que as pobres (e já descabeladas) enfermeiras tenham que se dividir entre um e outro pobrezinho que está botando os bofes pra fora. Não bastasse isso, ele solta os curativos (ou molha), obstrui acessos venosos, esvazia os frasquinhos de medicação (de maneira que só fiquem faltando cinco gotas para inteirar a dose) e faz as pessoas pedirem algo exatamente quando você está terminando de contar a quinquagésima terceira das sessenta e quatro gotas de uma medicação. E ri, como ri, esse infeliz.

O mais incrível de tudo é que quando ele se cansa da brincadeira, vai embora sem quê nem porquê. Aí as impressoras voltam a funcionar, as canetas aparecem, as crianças voltam a comer, os computadores destravam, a chave do carro aparece e a vida segue, serena e tranquila, como se ele nunca houvesse aprontado.

Eu, todavia, não me deixo enganar. Sei que ele é persistente e que fica à espera do momento mais engraçado para agir. É por isso que, quando eu passo por um redemoinho, fico imaginando: ah, se eu tivesse uma peneira aqui... prendia esse danado e ia ter sossego.

Beijinhos
Fê Coelho



terça-feira, 4 de outubro de 2011

Desabafo e Decisão em Tempo de Guerra

Estou pensando muito seriamente em desenvolver o texto abaixo e fazer dele algo maior. É uma personagem que me apareceu há mais de ano e que, volta e meia, vem me perguntar: "Por que é que você ainda não escreveu a minha história?" Acho que estou devendo isso a ela.

Apresento a vocês a Rosa:



Faz frio hoje. Muito frio. Mas o pior de tudo é sentir que isso não é apenas uma condição climática. Sinto afirmar, caro leitor, que hoje lês a carta de uma mulher vazia. Percorres as letras e frases de uma mulher que tudo perdeu e que, por algum tempo, não soube para onde ir. O vento uivando em minha janela nada mais é que um eco fraco do meu desespero, da minha falta de opções. Se tudo pelo que vivi foi-me tirado, pelo que viverei agora?

Esse lugar desconhecido não me é mais estranho que o que sobrou de mim mesma. Sinto que até mesmo a minha imagem no espelho mudou. O mesmo rosto que outrora se mostrava liso e amigável, agora aparece carregado de um amargor indescritível. Não consigo sorrir com a mesma doçura de alguns meses atrás – não que eu tenha tentado ou tenha motivos para isso. Um sorriso que aparece em uma pessoa cuja alma foi tirada não é mais que uma ironia e decorre do torpor em que às vezes nos imergimos.

Dizer que não odeio o lugar onde estou seria uma mentira, mas também não poderia ficar em minha casa. Tudo que me era caro foi-me tirado e sinto que a melhor maneira de me recompor seja ir ao princípio de tudo. Como uma ferida que não pode cicatrizar enquanto houver tecido morto em seu leito, assim tem estado meu coração. Por mais dolorido que seja o processo, sinto que devo limpá-lo de tudo o que for necessário, para que possa novamente ficar inteira. E tal como as grandes feridas, essa deixará uma cicatriz que não poderei esquecer.

Vivi muitos anos em uma grande e imponente casa. Filha de uma família abastada, não conheci muitos motivos para me exasperar. A vida costuma ser bem fácil quando se tem tudo, não é mesmo? Vivi assim protegida durante toda a minha infância e juventude. Dos cuidados de meu pai, fui transferida às atenções de meu jovem e muito apaixonado marido. Tudo como devia ser. Passava os meus dias entre chás, bordados e conversas frívolas com minhas amigas, desempenhando bem o meu papel de respeitável dama. Enchia minhas noites com idas a teatros e conversas ao pé da lareira com meu marido. Ao contrário de minhas amigas, eu não tinha motivos para censurar-lhe os modos ou me encolher ante o seu olhar. Isaac era um homem muito carinhoso e me cercava de todas as atenções que eu podia querer.

Durante o primeiro ano de nosso casamento vivemos sós em nossa casa, sonhando com nosso primeiro filho, que nos foi dado por Deus quando eu completei vinte e um anos. Artur era um menino vigoroso e bom.  Cedo trocou seus primeiros passos e começou a falar. Ainda me lembro bem do som de seus passos e não posso descrever em palavras a solidão que essas lembranças me trazem.

Isaac era um oficial do exército e esse é o princípio de tudo o que ocorreu. Lembro-me da noite em que estávamos todos sentados em frente à lareira, ouvindo rádio. Esse seria um programa totalmente normal para aqueles dias, exceto pelo fato de Isaac se mostrar mais tenso que o habitual. Ao questionar-lhe o motivo de tanta seriedade, recebi um abraço e um beijo. Isaac disse-me que não havia motivo para preocupação. Mas eu podia sentir que algo estava muito errado. Naquela mesma noite, depois de nos deitarmos, ele disse-me que me amaria para sempre, não importava o que acontecesse. E eu senti medo, como se estivesse há um passo de uma grande perda. Hoje eu digo que teria dado minha vida para estar errada, mas eu não estava.

A Guerra havia chegado ao país, com uma força avassaladora. Como uma fábrica de viúvas e órfãos, ela estendeu seus domínios por todos os lugares. E a morte, sua funcionária mais fiel, trabalhava sem descanso. Ao seu lado, operavam a fome e o desespero. Meu marido foi destacado para o campo de batalha e ficamos, Artur e eu, em nossa casa.

A princípio eu tentava manter as coisas o mais normais possível. Brincava com Artur e cuidava da casa para que quando Isaac voltasse, pudesse ter um lar agradável novamente. Mas o tempo passou impiedoso e a miséria começou a andar em nosso encalço. Encontrei trabalho e comecei a me dedicar à tarefa de sustentar meu filho. A cidade entrou em racionamento e faltava comida, água, remédios e empregos decentes. 

O primeiro golpe, do qual tento irremediavelmente me recuperar, foi a perda de Isaac. Aquela noite fora fria e eu e Artur dormíamos juntos na cama que eu e Isaac dividíamos com tanta alegria. Dois homens fardados bateram à porta e, quando eu atendi, entregaram-me o cordão de prata com a plaquinha que identificava meu marido. Junto com isso, entregaram-me a bandeira de nossa Pátria-mãe. Disseram que sentiam muito e eu não pude saber o que eles disseram em seguida. De súbito senti-me fria e meio vazia. Voltei para o quarto e, abraçando o que sobrou de minha felicidade, chorei por horas. Meu inferno pessoal estava apenas no início.

Dois meses se passaram até que eu pudesse chorar apenas escondida. O sentimento de desamparo que se abateu sobre mim era insuportável. Observava meu filho brincando e imaginava mãe é essa, que manda seus filhos morrerem por ela. Então resolvi que seria uma mãe melhor que nossa maldita Pátria. Dediquei-me com afinco a manter meu filho feliz. Fazia-lhe as vontades sempre que possível e adequado. Brincava com ele e pescávamos. Fui para Artur tudo o que podia ser. Ele se tornou meu único motivo para continuar aqui e contemplar o trabalho incansável da morte, sem me entregar à sua carga. Mal sabia eu que ela me observava tão de perto.

Artur estava com três anos, quando adoeceu. Pneumonia, foi o que me disseram. Não havia hospitais ou remédios. Tudo estava desviado para os campos de batalha. A sanha dos homens por poder não tem limites. Quando uma luta por poder é travada, tudo o mais é colocado de lado. Pessoas dão a vida por ideais que não lhes pertencem, recursos são desviados dos que necessitam de atenção. A sensação que eu tinha era de que ao final desse período turbulento, teríamos um país povoado apenas por veteranos de guerra. E eu sequer podia contar com a esperança de encontrar entre eles o meu marido.

Ver meu filho ficar cada dia mais doente e fraco e, por fim, entregar sua vida nas mãos frias da morte foi o fim da etapa sana de minha existência. Algumas coisas simplesmente não podem ser esquecidas; e digo que ver um filho magro e enfraquecido fechar os olhos para a vida e amolecer por completo em seus braços é a pior de todas elas. Jamais poderei me esquecer de que, por um momento pude olhar nos olhos da morte e jurei vingança. Foi quando peguei meus poucos pertences e me alistei no exército, disposta a trabalhar em um Hospital de Campanha.

Não que isso seja um consolo. Passarão muitas vidas antes que eu possa dizer que estou confortada, mas poder vingar a morte de meu filho e me negar aos braços dessa trabalhadora incansável é uma maneira de me levantar todos os dias. Enquanto houver uma vida que eu possa tirar de suas mãos, ali estarei. Enquanto eu puder rir-me de suas costas se afastando, eu o farei. E me lembrarei todos os dias daqueles que ela me tirou. E essa será minha vingança.

Não me julgues feliz, caro leitor. Sinto informar que estou há muitos passos da felicidade. Mas reconhece em mim uma mulher que, mesmo amargurada, resiste.

                                                                    Rosa
                                                            18/02/1946

domingo, 2 de outubro de 2011

Eu e a Dona Expedita



Se você é psiquiatra, psicólogo, psicoterapeuta, apaixonado por essa área do conhecimento humano, ou se - no mínimo - conhece alguém que o seja, por favor, não leia essa crônica. Se você é conhecido de algum pai de santo, se faz despacho ou algo do gênero, eu peço, não leia esse texto. Porém, se você não se importa de ver que lê os escritos de uma doida varrida, vá em frente. Vou falar um pouco sobre uma personagem que mora comigo, embora eu, tecnicamente, more sozinha.

Desde que aceitei a inevitável presença da Isaura em minha vida, outros inquilinos me apareceram: a Dona Expedita e o Seu Manoel. Na verdade, só a Dona Expedita e a Isaura é que moram aqui. O Seu Manoel aparece de vez em quando, mas estou vendo a hora de ele se mudar pra cá.

A Dona Expedita é uma senhorinha já bem vivida, que sabe que casa, louça, poeira, roupa pra lavar, roupa pra passar, tudo isso vai estar aí pra sempre. Mas a minha imagem no espelho e as minhas lembranças...

Ela era filha de pais muito rígidos e morava na roça em seus tempos de menina. Casou-se aos dezesseis anos, teve nove filhos (todos homens), enviuvou e veio pra cidade. Os filhos já criados, netos encaminhados, ela começou a se aventurar pelas ruas, pelas feiras e pelo "forró dos velhos", como ela gosta de dizer. Foi lá, inclusive, que ela conheceu o Seu Manoel.

Ditinha - seu apelido para os dias de bom humor -  usa os cabelos presos num coque bem feito no alto da cabeça. Os fios prateados e a pele enrugada conferem-lhe aquela aparência frágil e condescendente dos idosos. Mas não se engane: a velha é uma peste. Tem um humor ácido, fala palavrão, não tem muita paciência com frescura, nem com chilique. Usa uma bengala que é uma arma: dê bobeira perto dela, vá encher-lhe a paciência, pra ver se não leva uma bengalada na canela! E o mais engraçado de tudo é a cara de inocente que ela faz. "Desculpe, querida. Já estou velha e não consigo controlar bem essa bengala". Aí você se vira para ir embora e só ouve o risinho abafado.

Eu e Dona Expedita, normalmente, nos damos bem. Também não gosto de frescura, nem de gente desanimada e reclamona.  Adoro quando ela me explica que as prioridades podem não ser tão óbvias e me divirto quando a gente sai pra caminhar. Nosso papo é bom, nós reparamos nas coisas e nas pessoas, rimos e ela me conta um monte de histórias.

 Isso, entretanto, não significa ausência de desentendimentos. Ditinha, infelizmente, é analfabeta. Já tentei ensiná-la, mas ela nunca quer aprender. Prefere que eu leia pra ela, com a desculpa de que "seus olhos já não são os mesmos". Eu desconfio que ela tenha preguiça mesmo. Acontece que, quando a Isaura fica muito furibunda comigo e eu - fraca que sou - resolvo fazer uma faxina, o circo está armado. E a situação é sempre pior se eu estiver lendo algo de que a Dona Expedita goste. Ela fica fula da vida e começa a aprontar: esconde o avental de joaninhas da Isaura, me faz tropeçar na bengala, esconde os panos de chão, derrama mais sujeira na casa, fura os sacos de lixo e outras maldades dignas e um saci. Eu vou passando pela casa e vendo as artes dela. Estou dizendo: a velha é uma peste! Vai muita conversa e promessa até ela se acalmar. Às vezes, eu preciso ler até as quatro horas da manhã, pra ela finalmente me perdoar.

Alguns acessos de fúria são tão intensos que eu preciso apartá-la da Isaura. Não se enganem: entre nós, mortais, existe essa coisa de idade. Mas, no que tange as entidades imaginárias, é tudo diferente. Já separei brigas intermináveis das duas. A Isaura não respeita cara de velha e a Dona Expedita é forte. Estou vendo a hora que ela vai começar a soltar aqueles poderes do Mortal Kombat. É um quebra pau dos infernos. Eu vou passando com os baldes e me desviando dos tapas e das coisas que uma joga na outra.

É claro, Ditinha e Isaura não brigam o tempo todo. Algumas vezes elas entram em acordo e eu levo a pior. A Isaura passa por mim e solta: "casa empoeirada, não?" Eu olho para a Dona Expedita com cara de cachorro que caiu da mudança, à procura de um pouco de apoio. Ela responde: "não precisa me olhar desse jeito: a Isaura tá certa". Daí eu me recolho à minha insignificância, ponho uma música alta e encho a casa de água - como sempre.

 É exatamente nesse momento que me aparece o seu Manoel, com seu terno xadrez, chapéu de palha, lenço no bolso e barba bem feita. O cheiro de colônia se espalha pela casa e ele sorri. Dona Expedita, a depender do seu humor, lhe sorri de volta ou manda por raio que o parta. Eu, particularmente, torço pra que ele a chame pra ir ao cinema ou à sorveteria - antes que ele perceba algo que precise de um pequeno reparo e eu me ferre de vez.

Beijinhos
Fê Coelho








segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os ipês não mentem




Melissa parou sob o velho ipê amarelo. Olhou para o alto, para sua copa majestosa e colorida, viva e contrastante com a paisagem cinzenta e retorcida do cerrado há meses sem chuva, e se emocionou. Não por algum motivo óbvio; não por um sentimento declarado ou pela falta dele. Seus olhos marejaram por algo muitíssimo mais singelo que isso: ela vira uma casa de joão de barro e nenhuma imagem poderia tê-la feito sentir algo semelhante.

Enquanto seus olhos se voltavam para o céu, tentando captar a grandiosidade de seu lugar favorito no mundo inteiro, o sol ofuscou seus olhos. Ela os desviou e, quando recobrou o sentido, lá estava a minúscula construção de barro - tão singela, tão sutil, tão simples em sua combinação ton sur ton com as cores do cerrado, que dificilmente Melissa a teria visto. Acontece que os olhos só veem o que estão preparados para captar. E aquele, indubitavelmente, era o seu momento.

Voltara à pequena cidade como uma vencedora: envergara um tailleur, saltos altos e um sotaque carregado de importância. Retornara vitoriosa: deixara para trás os dias de míngua, o pão com manteiga e os velhos amigos. Agora tudo em sua vida era glamour e, acredite, ela tivera uma boa dose disso. Acontece que algo como um comichão estava sempre presente e ela sabia o que era. Tratava-se do prurido ininterrupto de tudo o que não fora e que ela jamais saberia como poderia ser.

O inacabado era um espinho que não se podia retirar. Era uma espécie de certeza dúbia. Certamente teria sido maravilhoso, mas seria o suficiente? Melissa precisava viver, experimentar, se provar e se afirmar. Não. Não teria sido o suficiente, ela repetia para si mesma.

Talvez tivesse uma casa simples, pequena e confortável. Talvez conseguisse ter belos finais de tarde, enquanto balançava uma criança em seus joelhos. Ou, quem sabe, encontrasse prazer em esperar que o dia chegasse ao final, para então repousar a cabeça no peito largo e acolhedor de Tiago. Talvez tudo isso fosse realmente incrível, mas ela provavelmente se sentiria sufocada. O mundo era um cardápio demasiado tentador para se ignorar.

E lá estava ela, loura, alta, rica, bem resolvida, poliglota e absolutamente embevecida pela simplicidade de uma casa de joão de barro. Teria jogado para longe de si um futuro feliz? Essa era a parte que ela mais detestava no fato de fazer escolhas. O que ficava para trás era sempre muito incômodo, sempre atrativo. Ou será que o momento atual é que não conseguia ser bom o suficiente para fazê-la se aquietar? Ah, como ela odiava sentir-se encurralada por escolhas que sequer poderiam ser feitas novamente.

Percebendo a frustração tomar conta de si e manifestar-se como um gosto amargo na boca, Melissa baixou os olhos. Passou a mão pelos cabelos e já ensaiava mais uma das mentiras compassivas que costumava inventar para si mesma, quando uma mão tocou seu ombro. Quem sabe tenha sido o susto, ou algo mais - não há como afirmar - mas tudo em si ficou alerta de uma forma que há muito não ocorria.

- É a mesma casa daquele tempo. - Uma voz grave, baixa e macia falou e Melissa derramou duas lágrimas.
- Como você sabe? - Ouviu-se perguntar.
- A árvore ainda tem a nossa marca.

Melissa contornou o ipê. Sua respiração era superficial e ela sentia-se uma marionete cujos movimentos não são mais que um mover de cordas. Estava lá - o coração mal entalhado, as letras juvenis e cheias de uma esperança tão pura que provocava dor à mera lembrança. Estava lá, logo abaixo da casa de joão de barro, o lugar onde juraram ser um do outro até o fim dos tempos.

Virou-se e, sem quê nem porquê, beijou-o. Não como as crianças que foram, mas com toda a certeza que as escolhas lhe deram e tiraram ao mesmo tempo. E as lacunas foram sendo preenchidas. E Melissa descobriu o que a faria feliz, o que complementaria tudo aquilo que ela lutou para se tornar.

- Acredita que é possivel? - Melissa perguntou, fitando os olhos negros de Tiago.
- Ouvi dizer que os ipês não mentem.


Beijinhos
Fê Coelho

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Comemoremos!



Vez em quando, gosto de me fazer algumas perguntas. Gosto de questionar o motivo de eu fazer ou deixar de fazer algo e hoje, na iminência dos quinze mil acessos, voltei a me perguntar: por que diabos estou nessa de escrever? A resposta continua parecida com a anterior. Um pouco mais refinada e mais sincera, talvez.

Escrevo porque simplesmente não posso viver sem isso. Viciei-me nas palavras e estou irrecuperavelmente fadada a fazer reflexões e confissões - retratos de alma em forma de letras - até quando minha sanidade mental permitir. Componho textos porque em vários momentos meus pensamentos transbordam, porque eles não conseguem se aquietar. Faço isso porque não consigo pensar em outra maneira de ser.

Talvez o motivo principal seja pura e simplesmente o seguinte: escrevo porque isso me faz feliz.

Deixo aqui o meu mais profundo agradecimento a todos os meus leitores (acho muito chique dizer isso... hahahahahah). Agradeço a cada um que acompanha minhas ideias malucas e que trata com tanto respeito essas palavras que eu deixo por aqui.

Um beijo enorme
Fê Coelho



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sobre Epitáfio e Coragem



Uma das músicas mais bonitas e mais tristes que conheço leva o nome de Epitáfio e chegou-me aos ouvidos pela televisão, assistindo a um clipe dos Titãs. Àquela época, no auge da inocência (e da sensação de maturidade) que só a adolescência pode proporcionar, julguei-me capaz de apreciar a música. Mal sabia eu, entretanto, que apenas captava sua melodia. Os versos só foram compreendidos muito recentemente e talvez eu ainda tenha apenas uma percepção parcial do que eles representam.

Penso que colecionar várias coisas que deveriam ter sido feitas deve ser algo muitíssimo frustrante ao final dessa sequência de dorme e acorda que é a vida. Porque se tudo se resume a isso - abrir e fechar os olhos - a diferença que se encontra entre a vida de um e outro indivíduo é o recheio, o que ele andou fazendo entre o acordar e o dormir.

Talvez tudo passe pela maneira de encarar a vida. Talvez o possível autor do epitáfio de que trata a música estivesse apenas tendo um dia ruim. Ou quem sabe ele realmente tenha se arrependido de ter vivido uma vida estressante e de alguma forma apenas morna. De qualquer maneira, não importa o estado de espírito do narrador, ele me levou a pensar sobre minha própria vida e tirar desse matutar uma conclusão: Se eu precisasse escolher uma só palavra para dar o tom aos meus dias, seria "coragem".

Não quero com isso dizer que sou uma pessoa totalmente corajosa. Sei que um milhão de vezes por dia me acovardo diante de fatos concretos e possibilidades lá no limbo. Mas reconheço que andei agarrando a vida com as unhas, que andei fazendo uma e outra escolha difícil e que tenho me sentido mais forte do que me sentia há um ano, por exemplo.

Sabem o que acontece? Todos os dias, quando a gente abre os olhos, a vida pergunta: "E aí? O que vai ser?" e te dá o dia inteiro pra escolher. É todo um fotoperíodo de possibilidades, de escolhas que você pode fazer e controlar. É mais um abre e fecha de olhos que você pode modelar como massinha ou ver passar como água de rio. É tudo uma questão de escolha. Sempre foi e não vai deixar de ser. Mas não se engane: mesmo as escolhas pequenas exigem coragem.

É preciso coragem pra largar um saco de batatas fritas, abrir mão dos doces em excesso, calçar um tênis e sair para uma caminhada. Sabe por quê? Porque isso significa mudar. E mudanças, não importa o tamanho, exigem valentia. Nem sempre é fácil trocar algo com o qual se está acostumado e ir em busca do desconhecido.

É necessário bravura para aceitar as pessoas, os problemas, os dias ruins e mesmo os bons. Porque tem gente que não tem coragem de assumir que está feliz. Algumas pessoas são tão agarradas às suas reclamações, que aceitar a felicidade torna-se um dos Trabalhos de Hércules. E fico me perguntando de onde vem essa política de apologia ao sofrimento. Questiono-me sinceramente sobre o motivo de todo mundo gostar de dizer que as coisas vão mal. E pior: as pessoas gostam de falar que está tudo lascado, sem, no entanto, fazer nada para melhorar.

Coragem, minha gente, o tempo está passando. Coragem, que os olhos lá vão se abrindo e fechando. Coragem, pra rechear os dias com boas escolhas. Bravura, pra aceitar o curso da vida, para abrir o caminho à base de atitudes.

Não se pode fechar os olhos para o fato de que cada um faz de sua própria vida o que escolhe fazer. Mesmo que haja problemas, por mais que os imprevistos e tombos existam, há sempre um meio de refazer as situações. Há sempre um meio de reconstruir o que quer que seja. Porque, no final das contas, as pessoas podem te derrubar, mas não podem tirar sua disposição para se levantar.

Beijinhos
Fê Coelho


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Vende-se



Vendem-se papas na língua, em razoável estado de conservação pelo excesso de uso, mas com capacidade funcional plena.
Vende-se um superego exigente.
Vende-se um fardo de bom-senso.
Vende-se uma cabeça que pensa demais e um coração que sente além da conta.
Vendem-se sonhos.
Troca-se horas de reflexão por horas de ócio mental.
Troca-se um pouco de consciência da realidade por um pouco de inconsequência.

Solicita-se, entretanto, a compreensão dos interessados, visto que a negociante é apegada aos itens em oferta e pode - no último instante - não querer abrir mão deles.

Beijinhos
Fê Coelho

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Eu experimentei



Olhando fotos recentes e outras tiradas há um ano, mais ou menos, fiquei espantada ao ver a mudança em meu rosto. Não, eu não fui atropelada. Não, eu não fiz nenhuma cirurgia estética. Nem peeling, nem botox. Nem nada disso. O que aconteceu comigo foi que eu Experimentei. E nada nessa vida poderia ter feito tanta diferença.

O leitor já deve estar acostumado com minhas conclusões absurdas, e provavelmente já sabe que darei início aos argumentos. Acompanhem o raciocínio.

Em primeiro lugar, experimentei romper com uma situação insustentável. Isso, por si só, já trouxe um quê de leveza totalmente inesperado. Todavia, esse foi apenas o primeiro passo - um dos maiores, mas não o maior. O passo gigantesco de verdade foi dado pra dentro e tornou-se o que fez a diferença real nas fotos.

Experimentei enxergar-me com olhos curiosos, como se fosse um livro novo, com uma história que se torce sobre si mesma, mudando os parágrafos e capítulos, trazendo ao leitor o real significado. Uma história que só se mostra para os que realmente desejam conhecê-la. Experimentei aceitar as partes boas e não julgar as ruins. Ousei me olhar nos olhos, dizer "Prazer, estranha" e tratar de me conhecer.

Pratiquei o desapego. Das roupas velhas, das lembranças usadas, do que eu achei que tivesse sido ou o que  gostaria que fosse. Desapeguei-me do não tão bom e já bem velho "eu não consigo". Livrei-me do que me segurava, do que me atrasava e do que me atracava. E, principalmente, desapeguei-me de mim, da imagem que fazia de mim mesma, dos conceitos antigos e de tudo o que acreditava ser verdade. Duvidei sinceramente de cada uma de minhas certezas, para encontrá-las novamente - mais vivas, refeitas e polidas.

Experimentei experimentar - comidas, músicas, lugares, roupas, maquiagem, o que fosse. Experimentei ser companhia para mim mesma. Experimentei ouvir o que eu tinha pra dizer, sem me censurar. Ousei dirigir, pegar a estrada, calibrar pneu, procurar endereço e aderir ao uso do telefone celular. 

Testei assumir a responsabilidade pelos acontecimentos em minha vida e desse fato surgiu um melhor ainda: assumir Somente a parte que me cabe. 

Provei a inigualável sensação de autonomia que vem com o "faço porque quero", "visto porque gosto" , "escuto porque me apraz", "escrevo porque me deu na telha". Tomei a liberdade de não exigir das pessoas algo que elas não podem oferecer e, em alguns casos, tenho sido subversiva o suficiente para não esperar absolutamente nada.

Muitas dessas coisas não aparecem nas fotos. Foram elas, entretanto, que me permitiram um sorriso de verdade, olhos realmente brilhantes e uma cara de felicidade bem resolvida. E isso sim, a câmera fotográfica  consegue captar.

Beijinhos
Fê Coelho


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Diga-me, menina, o que vai ser?



- Diga-me, menina, porque você está rindo? Entendeu a pergunta que te fiz?

- Não sei. - respondeu a menina - Mas entendi uma ou duas coisas desde a nossa última conversa.

- Tenho visto você a pensar, a se debater entre questionamentos e estou curioso. Diga-me, menina, o que entendeu?

- Entendi que a pessoa mais difícil de se perdoar é - adivinhe - você mesmo e que, paradoxalmente, esse é o perdão que importa, afinal. Compreendi que nosso elogio é o mais complicado de se conquistar, mas é o mais gratificante que se pode receber. Percebi que minhas escolhas anteriores podem simplesmente ser alteradas por novas opções, embora eu não possa fugir das consequências advindas do passado. Aprendi a sentir orgulho de mim mesma e a me olhar com um certo distanciamento, para me enxergar melhor. Descobri que não tenho razão, nem estou errada em tudo. Entendi que estou crescendo e mudando o tempo todo e que sou responsável por administrar essas mudanças. Compreendi que ainda me prendo a um milhão de convenções e que, provavelmente ainda estarei acorrentada a muitas delas ao longo da vida. Descobri que sua pergunta tinha muito menos a ver com o resultado final do que com o caminho percorrido para chegar a ele.

- Então diga-me, menina, o que você vai ser quando crescer.

- Serei o que conseguir ser, resultado de minha história e de meus sonhos. Serei o que tiver que ser, sem a necessidade de superar um modelo irreal. Farei minha história como quem tece, um fio por vez, uma anedota por fio, uma pessoa por anedota. Serei realizações, impressões, sonhos e frustrações. Serei a luta que travo todos os dias, para manter o curso da vida. Serei o resultado de escolhas certas e erradas, de passos ora acertados, ora trôpegos. E, muito provavelmente, serei a pessoa que há de desdizer tudo o que te digo agora, porque entendeu coisas que não poderia compreender no momento atual.

- Acho que a gente se vê dentro de algum tempo, menina. Ainda há muito o que pensar, muito o que concluir. Você ainda há de me entender. Até lá, não deixe de pensar. O que você vai ser quando crescer, menina?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um dia de cão

                                                                             Imagem: revista Exame




Dizem que todo trabalho tem coisas boas e ruins. Eu até concordo com essa afirmação, mas preciso dizer que a proporção usada para distribuir essas coisas varia muito.

Vou contar o que me aconteceu hoje, mas antes me permita afrouxar o nó da gravata e me servir de uma dose de whisky puro.

Pronto. Agora posso contar que porcaria de dia eu tive.

Eu trabalho em um banco privado. Sou gerente. Por favor, esperem até que eu termine de contar a minha história, para iniciar suas preces.

Todos os dias, tenho uma pilha de papéis para checar. Documentos e propostas entulham a minha mesa e eu pareço ser incapaz de acabar com os montes de bilhetinhos. Sem contar as metas. Ah se eu pudesse... Se eu pudesse ser um animal mítico, gostaria de ser um dragão, só pelo prazer de ver aqueles papéis indo pro espaço. Juro que ia caprichar na labareda. E junto com os papéis, ia queimar o traseiro do estagiário novo. O que nos leva ao assunto principal. Meu dia de cão.

Estava eu, distraído com meus xingamentos mentais acerca da quantidade de papéis em minha mesa, quando o maldito estagiário chegou. Veio todo sorridente e solícito, se oferecendo para entregar meus papeis para o chefe – que diga-se de passagem, eu odeio. 
Eu, burro que sou, aceitei a ajuda. Quando o magricela perguntou que pilha deveria levar, eu apenas apontei com o queixo, fazendo um bico junto. Minha mulher já me disse para parar com essa mania. Quem sabe agora eu aprendo. O diabo é que o telefone tocou bem na hora que o estagiário pegava os papeis. Como eu não sinalizei direito, o infeliz levou uma pilha de rascunhos e, acredito eu, colocou sobre a mesa do chefe, arreganhando os dentes.

Não haveria problema nenhum se, entre os rascunhos não estivesse um desenho. Não haveria problema algum se fosse um desenho qualquer. O inferno é que o desenho em questão era um bonequinho de vudu, todo espetado e com o nome do chefe em cima. O Valadão havia me matado de raiva no dia anterior e eu ainda não havia me desfeito de minha obra-prima.

Quando percebi o que havia acontecido, senti que poderia morrer ali mesmo. Talvez eu devesse ter me esforçado para conseguir morrer. O Valadão ia arrancar o meu couro. Droga! Eu tinha de descobrir uma maneira de tirar aquele maldito desenho da sala do chefe. Precisava mesmo de um milagre. Acreditem ou não, o milagre veio.

Tenho um filho adolescente, que para dizer o mínimo é o cão. Esta semana, ele foi pego na escola com alguns exemplares de peido alemão. Foi suspenso, depois que empestiou toda a sala de aula e fez 25 adolescentes vomitarem até as tripas. Como prova do crime, eu levei para casa o saquinho com os pequenos pavis fedorentos, que ficaram dentro da minha pasta.

Juro que não imaginava o efeito, quando acendi cinco deles no corredor da agência. Meus amigos, aquela coisa fede muito! Consegui tirar meu chefe da sua sala. Para ser sincero, ele não ficou no trabalho. Teve que ir para casa depois que eu vomitei em sua camisa. A agência teve que ficar fechada. Não havia a menor condição de qualquer humano permanecer ali dentro, por pior que fosse seu olfato.

Resolvi o problema com meu desenho, mas arranjei um infinitamente pior. Claro que as câmeras internas me pegaram em ação. Não preciso dizer que fui demitido. Agora vem o cúmulo do ridículo: virei ícone da subversão na escola do meu filho. Os meninos me acham genial, as meninas me acham nojento. Os pais me acham um mané. 

Se eu pego aquele estagiário, juro que acabo com ele.

Sobre Vítimas.



Há um tempo, tive um ímpeto de rasgar o verbo e falar meio mundo de coisas nesse post aqui, ó. Mas naquela época me refreei. Foi uma atitude sensata para a ocasião. Acontece que não vou repetir o feito. O blog é meu, a raiva é minha e hoje quero falar sobre um assunto que sempre me tirou do sério: as vítimas.

Termo advindo do latim victimia ou victus, vítima quer dizer vencido, dominado. Puro glamour, não? É por isso que considero essa  uma das posturas mais tristes que se possa adotar ao longo da vida.

O papel de vítima pode se prestar a muitos objetivos: sentir pena de si mesmo, isentar-se da responsabilidade pela própria vida, mascarar o medo do fracasso. Todavia, eu acredito - e note-se que estou falando de uma crença pessoal, sem nenhum embasamento teórico - que uma das funções mais importantes do papel de vítima seja a manipulação. Porque uma vítima bem montada é capaz de trazer à tona os sentimentos de piedade e de empatia das pessoas. E aí, meu amigo, já era.

Uma vítima bem estruturada nunca será uma pessoa ruim. Ela sempre será boa, terá bons sentimentos - que, obviamente, serão menosprezados e maltratados pelas outras pessoas -, terá boas intenções e dirá que está ali "pro que der e vier". Desculpem-me o clichê, mas não é possível caracterizar bem uma vítima sem usar uma tonelada deles. Vítimas são amontoados de lugares comuns. São pessoas que sofrem demais, porque são muito azaradas e porque tudo só acontece com elas. São indivíduos que nunca "fizeram nada".

O que as vítimas não entendem é que, mesmo que isso fosse verdade, o fato de não fazer nada já é uma opção. A omissão é uma escolha. E é aí que a coisa complica. Porque, na cabeça de uma boa vítima, a ação é sempre do outro. O vizinho, o namorado, a ex, o cosmo, o destino, a senhora com vestido de bolinha vermelha parada no ponto de ônibus, todos são agentes, menos a vítima. Porque ela quer fazer crer que está sendo alvo de uma conspiração, de alguma espécie de perseguição ou, pra dizer o mínimo, de uma tramoia do destino. Afinal de contas, o mundo vai ser sempre um lugar hostil e injusto para com as vítimas.

Se você é uma dessas pessoas e está lendo esse texto até agora, vou te contar uma coisa, chuchu. E não é coisa da minha cabeça não. Vou citar gente importante. Prepare-se para uma frase de Jean-Paul Sartre: "Tu és metade vítima, metade cúmplice, como todos os outros".

Entenderam, vítimas queridas? Podem espernear à vontade, mas vocês têm responsabilidade, sim. O mundo não está aí pra brincadeira e a vida é essa aí mesmo, com tudo o que possa acontecer.

 Desde um pneu furado, passando por uma unha quebrada, contornando uma nota ruim em uma prova para a qual você não estudou o suficiente, chegando a uma gravidez indesejada, dando de cara com um divórcio e se estendendo até a beira do caixão, ah, meu amigo é tudo no "Rachid". A conta da vida é rachada mesmo: 50% pra mim, 50% pro mundo; metade pra você, metade por azar; 1/2 pra vítima, 1/2 pro algoz; 2/4 pra você e o resto pro que quer que seja. E não se engane! Você vai ter que assumir a sua parte, cedo ou tarde.

Então façam-me o favor, vítimas do mundo: endireitem essa coluna, enxuguem as lágrimas, tirem a fantasia de  mártir e desfaçam essa cara de cachorro que caiu da mudança. Peguem o fardo de responsabilidade que lhes é destinado e, pelo amor do que quiserem, vão viver!

Espero ter sido clara.
Fê Coelho

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Carta ao motorista logo atrás de mim.



Caríssimo senhor motorista do carro a uma distância de ridículos 20cm do meu pára-choque traseiro.

É muito respeitosa e ironicamente que lhe escrevo esta carta, senhor filho da mãe.

Gostaria de explicar, por meio desta, que não é pessoal o fato de eu não me enfiar em baixo do caminhão cegonha de 42m de comprimento, carregado, localizado imediatamente à minha direita. Acontece que tenho um distúrbio neurológico chamado "amor à própria vida", que me impede sumariamente de atender à sua insistente e luminosa solicitação.

Sinto muitíssimo pelo fato de meu carro não ser capaz de voar, saltar ou coisa que o valha, de modo que o senhor - ser humano que acumula toda a pressa da região - possa passar livremente pela pista que eu ocupo durante um período de tempo equivalente a uma piscadela.

Espero que entenda que não posso dispor de minha vida da maneira que bem me aprouver, visto que sou responsável por menores incapazes. Rogo que compreenda o fato de eu não estar disposta a me envolver em um acidente automobilístico. E, se me permite a repetição, credito essa indisposição ao meu distúrbio neurológico supracitado. Tenho um apego terrível às ações de inspirar e expirar, associado ao pânico gerado pela possibilidade de cessação dessas atividades.

Ressalto que tocar o pedal referente ao freio, ainda que levemente, ou mesmo retirar o pé do acelerador por míseros segundos não há de lhe fazer mal.

Na esperança de que o senhor tenha chegado a tempo de retirar o pai da forca, me despeço.

Acrescente aqui um palavrão e um gesto não muito amigável.

Fernanda Coelho


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Uma confissão.



Preciso confessar uma fraqueza: não consigo viver se não for 100%. Não consigo estar só "de corpo presente" em nenhum lugar. Não entro em nenhum tipo de relacionamento - amizades inclusas - se for para ser pela metade. Não faço elogios falsos. Não gosto de gente morna.

Ando pela rua observando: as pessoas, seu modo de andar, seus trejeitos, suas roupas; os carros, seu barulho, sua fumaça, a maneira como refletem o sol; os bichos, as árvores, o céu, as nuvens, os outdoors. Ouço o burburinho das pessoas, capto pequenos trechos de suas conversas. Sinto a temperatura do dia, o calor do sol e o vento. Presto atenção ao cheiro dos lugares por onde passo. E não raro percebo que olham com uma cara engraçada para mim, porque estou sorrindo sem motivo aparente. Quando isso ocorre, quero dizer, quando chego ao ponto de sorrir, é porque estou realmente feliz e talvez isso seja difícil de entender.

É assim todo dia, porque sou absolutamente sensorial. E porque não consigo viver pela metade. Aprendi a ser intensa, a sentir demais. Aprendi a não aceitar apenas uma porção das situações. Entendi que todos os momentos podem ser interessantes, para dizer o mínimo. Basta que a pessoa esteja realmente ali; que se faça presente e deixe de ser mera expectadora da própria vida.

É mais ou menos assim que eu funciono: com força total, até entrar em parafuso. Nem o cansaço, eu consigo sentir pela metade. Quando me canso - de um dia de trabalho, de uma história, de uma situação ruim, de uma roupa, de um corte de cabelo ou do que quer que seja - é para valer. Me afasto do que me cansa com a mesma paixão com a qual me aproximo do que me encanta. E não é por mal. O problema é que tolerar situações ruins por necessidade ou conviver com pessoas de coração leviano são coisas que me levam ao afastamento para proteção.

Só rio se for às gargalhadas. Só choro se for aos borbotões. Só abraço se for apertado. Só beijo se for de verdade. Quando leio, me entrego. Quando escrevo, me entrego ainda mais. Se a saudade chega, é pra fazer suspirar. E quando fico com raiva, quase enlouqueço. Viro tempestade em questão de segundos, mas a calmaria é algo que chega fácil e dura muito tempo.

Sei que talvez não sejam essas cores carregadas, o que se espera das Mulheres Perfeitas (assim, com letra maiúscula, pois são praticamente uma instituição). Acontece que já desisti de entrar pro clube. Eu tentei. Juro que durante anos eu tentei. Muito. Mas não aconteceu e agora eu entendo o motivo.

Sou imperfeita demais para caber nesse molde rígido que inventaram sabe Deus onde. Sou feita de uma matéria que pode até se enquadrar à forma, mas que tem memória e acaba por voltar ao formato inicial.  Sou intensa demais, expansiva demais para caber em um modelo tão certinho. Tenho muitas fraquezas e preciso confessar: tenho uma queda enorme por viver!

Beijinhos
Fê Coelho

domingo, 14 de agosto de 2011

Os outros filhos que me perdoem...



Hoje quero falar do que está todo mundo falando. Quero me juntar à turba do "Feliz dia dos Pais". Não porque não tenha uma certa agonia de fazer tudo igual a todo mundo, mas porque não haveria maneira de passar o dia sem colocar em linhas as coisas que gostaria de dizer e que, se apenas ditas, se perderiam no momento em que eu as pronunciasse. Hoje eu quero o registro, para consultas posteriores e para que fique publicado: Deus me deu o melhor pai do mundo!

Desculpem-me os outros filhos, ou os outros pais. Não quero causar polêmica ou incitar a inveja com essa afirmação, mas ela é verdadeira e posso, com uma argumentação lógica, explicar meu ponto de vista.

Quando digo que ganhei de presente o melhor pai do mundo, não quero dizer que ele o seria para qualquer outro ser humano. Afirmo apenas que para mim - considerando as minhas necessidades e limitações, levando em conta minha trajetória de vida e todos os outros fatores - ele é o mais adequado, o que mais funciona e o que eu escolheria se me fosse dada a oportunidade. Vamos falar dos meus motivos.

Meu pai é Homem, assim, com "h" maiúsculo, como dizem por aí. Ele é responsável, íntegro, leal, companheiro. Sabe aquela pessoa em quem você simplesmente sabe que pode se apoiar, porque ele está lá e é firme? Sabe aquela pessoa que você sabe que não vai balançar quando a hora difícil chegar? Sabe aquela pessoa que você sabe que literalmente "vai segurar o rojão quando o bicho pegar"? Pois é. Esse é o meu pai. Ele é líder, é o esteio da casa. Ele é aquela parte da família com quem a gente simplesmente sabe que pode contar.

Meu pai cuida. Ele se preocupa com o bem estar das pessoas da família. Se preocupa quando um filho está passando por um pedaço difícil. Ele se importa com os vínculos entre nós. Meu pai se desvela em cuidados sempre que um de nós precisa. Meu pai se doa. Ele se entrega, sem cobrar, pacientemente. Meu pai sabe servir à família que ele criou.

Meu pai sabe se fazer respeitar. Com tanta doação, algumas pessoas poderiam pensar que tenho um pai "banana". Nenhuma afirmação poderia ser mais errada. Já disse, dois parágrafos acima, que meu pai é Homem. Ele não se impõe pela força, mas sua postura é firme - o que não deixa espaço para a falta de respeito. Ele se faz respeitar por suas atitudes e, na minha opinião, essa é a maneira mais bonita de se respeitar uma pessoa. Porque respeito não deve ser confundido com medo. Essas são entidades diferentes. Não temo o meu pai, mas respeito suas palavras, seus ensinamentos, seu modo de vida e suas opiniões.

Meu pai erra. Ele não é perfeito e nem infalível. Já passei da fase de imaginar que os erros não aconteçam, né? Mas o importante é que, quando erra, ele reconhece o fato. Os erros cometidos pelo meu pai são dele. Ele se responsabiliza pelo fato e, quando necessário, pede desculpas. Meu pai, com isso, me ensinou a assumir o que faço, a ser responsável pelos meus atos.

Ele é verdadeiro. Com meu pai é assim: "pão, pão, queijo, queijo". Às vezes chega até a ser engraçado. O tal do meio termo é um ponto difícil pra ele. Ele gosta das coisas certas, das pessoas íntegras. Se não for assim, fica difícil.

E agora entramos na parte mais importante de todo o texto. Meu pai me ama. E não acho que outra pessoa teria a capacidade de me amar da mesma maneira, com a mesma intensidade, com o mesmo comprometimento (empatando com ele, entra minha mãe, né). Meu pai me aceita e me respeita. Meu pai me conhece. Ele sabe dos meus pontos fortes e fracos e não me diminui ou enaltece além da conta por nenhum desses aspectos. Meu pai sabe até onde pode ir comigo. Ele sabe até onde a corda pode ser esticada sem romper.

E tudo isso que eu falei mudou, inclusive o meu relacionamento com Deus. Se meu pai, que é humano e falível, pode todas essas coisas aí, o que não haveria de ser o meu relacionamento com Deus, que me ama além de todas essas coisas?

E é por isso que tenho tanto a agradecer.

Os outros filhos que me desculpem, mas eu tenho o melhor pai do mundo!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Presentes de aniversário



No ano passado, por ocasião do meu aniversário, fiz um balanço acerca de minhas conquistas até aquela data.  O mesmo balanço, se feito hoje e se dotado de toda a sinceridade de que uma pessoa possa dispor, provavelmente me traria complicações, visto que nem tudo o que se pensa é passível de publicação.

Assim sendo, para evitar a frustração de postar um texto marcado pela autocensura, decidi não escrever um balanço. Mais interessante é a minha lista de presentes - ou minha wishlist. Seguem abaixo os presentes que gostaria de ganhar, para chegar com tudo à terceira década da minha existência. Note-se que tenho ainda um ano para consegui-los.

1 Uma boa dose de sabedoria
   Juro que estou precisando, gente. Esse item é primordial, pra eu conseguir me orientar nas decisões que deverei tomar no próximo ano.
2 Coragem
   Quem é que toma decisões importantes sem ela? 
3 Disciplina
   Sem isso, a coragem não funciona
4 Saúde
   Sem saúde, não adianta ser disciplinado. O corpo simplesmente não funciona
5 Paz
   Que é a saúde da alma
6 Autoestima
   Que consiste em fazer as pazes com a própria pessoa
7 Autoconhecimento
   Que possibilita saber seus próprios limites, de modo a evitar as ofensas
8 Autonomia
   Para aproveitar o conhecimento adquirido e tornar a vida algo mais leve
9 Leveza
   Para aproveitar a autonomia, sem parecer um tanque de guerra
10 Amor
     Pela vida, pelas pessoas, por mim mesma, pela verdade, pelos sonhos, por Deus. De modo que, assim, eu possa me tornar uma pessoa mais sábia.

Viram que na minha lista não há nada que possa ser comprado? Uma coisa, entretanto, é comum a todos os itens: todos eles são conquistas enormes. Espero sinceramente conseguir um pouco de cada coisa aí, pra chegar aos trintões com um sorriso sereno no rosto. Tenho um ano inteiro pra isso. Boa sorte pra mim.

Beijinhos
Fê Coelho

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