sábado, 31 de dezembro de 2011

Fica? Não fico!



O que se pode fazer com o último dia do ano? Como aproveitar o derradeiro suspiro do calendário que derrubou todas as folhas, uma a uma, numa cascata de vida? O que fazer com a sensação de que o dia deveria durar mais que o previsto?

Agora, assim, na foz do ano, no momento em que ele desemboca na memória para virar lembrança e ensinamento, bateu uma nostalgia danada. Veio uma sensação esquisita de despedida, que eu nunca havia experimentado. Deu aquela vontade de permanecer e eu pedi.

 "Fica, 2011, que a gente ainda tem muito pra conversar. Não vai embora, assim, de uma vez. Senta um pouco e come um pão de queijo quentinho. Fica porque, embora você tenha sido muito bravo, eu aprendi muito. Vamos aproveitar só mais um pouquinho... E não, não faz essa cara de estressado, de pai que chegou na festa de adolescentes no horário combinado e vai ter que esperar mais meia hora no carro, pro filho tentar a sorte com a menininha de vestido rosa. Não olha pra mim desse jeito. Só fica mais um pouco. E se 2012 for carrancudo? E se ele não gostar de mim? E se ele puser o pé na minha frente, pra eu cair?"

E ele me respondeu.

"Deixe de bobagem, menina. Eu vou pro passado, pro lugar que é dos dias vividos, das boas e más lembranças. Vou pro tempo, pro baú. Me deixa passar, querida, que eu já dei o que tinha que dar. Não me prenda, nem se prenda a mim. Tenha coragem, porque se 2012 for bravo, de bravura você entende. Olhe para a frente, ponha um calendário novo na parede, passe as folhas com gosto e faça planos. Veja a vida se abrindo  adiante, num caminho que só depende da maneira que você escolha trilhá-lo. Mas não faça nenhuma lista. Elas são a melhor forma de se irritar um ano. A gente já começa com aquela responsabilidade de atender às suas expectativas e isso, convenhamos, é um saco! Seja justa com o próximo ano. Aceite-o, entenda-o e acolha-o, dia após dia, a cada folha que cair. Faça isso e vocês serão bons amigos".

Fiquei ansiosa e meio amedrontada. Só por garantia, resolvi perguntar: "Acha que eu consigo?"

 2011 me sorriu com uma cara levada, de menino custoso que sabe o jeito de aprontar e respondeu: "De uma coisa eu tenho certeza - você vai fazer o melhor que puder. Sabe por que? Porque você não sabe fazer diferente. Agora chega de besteira e me deixa ir. Não seja tão egoista."

Quando a última folha do calendário ameaçava cair, tentei uma última pergunta: "E o que eu faço com esse dia?"

O ano suspirou. "Faça o que te mais te deu prazer, minha flor. Acorde cedo, veja o dia clareando, caminhe no parque, faça um arrastão na casa, tire tudo o que não serve mais, ajeite os cabelos, coma algo gostoso e acredite. Acreditar foi o que você fez de melhor durante o tempo em que estivemos juntos."

E eu entendi que alguns anos são realmente especiais. Os que conversam com a gente, então, nem se fala.

Desejo a todos vocês um 2012 que converse, que sorria e esperneie. Desejo um ano que os faça sentir vivos, alerta e conscientes. Desejo um ano de realizações e de reconhecimento dos momentos felizes.

Beijo enorme pra todo mundo que me acompanhou neste ano tão querido.
Até 2012
Fê Coelho


2 comentários:

Rachel disse...

Ai caramba,vc me emocionou. Que texto lindo! Sua habilidade com as palavras é algo encantador,inexplicável. Feliz 2012 pra vc. E que fique registrado que eu fiz parte de um pedacinho do seu austero 2011! E mt me orgulho de tê-la conhecido...bjs cariocas

Lívia Azzi disse...

Uau, Frenanda! Arrepiei com seu texto, gostaria de ter escrito ele, tive sentimentos tão parecidos, a identificação foi inevitável.

Que você construa diálogos ainda mais inusitados com o ano de 2012!

Beijo.

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