Preciso confessar uma fraqueza: não consigo viver se não for 100%. Não consigo estar só "de corpo presente" em nenhum lugar. Não entro em nenhum tipo de relacionamento - amizades inclusas - se for para ser pela metade. Não faço elogios falsos. Não gosto de gente morna.
Ando pela rua observando: as pessoas, seu modo de andar, seus trejeitos, suas roupas; os carros, seu barulho, sua fumaça, a maneira como refletem o sol; os bichos, as árvores, o céu, as nuvens, os outdoors. Ouço o burburinho das pessoas, capto pequenos trechos de suas conversas. Sinto a temperatura do dia, o calor do sol e o vento. Presto atenção ao cheiro dos lugares por onde passo. E não raro percebo que olham com uma cara engraçada para mim, porque estou sorrindo sem motivo aparente. Quando isso ocorre, quero dizer, quando chego ao ponto de sorrir, é porque estou realmente feliz e talvez isso seja difícil de entender.
É assim todo dia, porque sou absolutamente sensorial. E porque não consigo viver pela metade. Aprendi a ser intensa, a sentir demais. Aprendi a não aceitar apenas uma porção das situações. Entendi que todos os momentos podem ser interessantes, para dizer o mínimo. Basta que a pessoa esteja realmente ali; que se faça presente e deixe de ser mera expectadora da própria vida.
É mais ou menos assim que eu funciono: com força total, até entrar em parafuso. Nem o cansaço, eu consigo sentir pela metade. Quando me canso - de um dia de trabalho, de uma história, de uma situação ruim, de uma roupa, de um corte de cabelo ou do que quer que seja - é para valer. Me afasto do que me cansa com a mesma paixão com a qual me aproximo do que me encanta. E não é por mal. O problema é que tolerar situações ruins por necessidade ou conviver com pessoas de coração leviano são coisas que me levam ao afastamento para proteção.
Só rio se for às gargalhadas. Só choro se for aos borbotões. Só abraço se for apertado. Só beijo se for de verdade. Quando leio, me entrego. Quando escrevo, me entrego ainda mais. Se a saudade chega, é pra fazer suspirar. E quando fico com raiva, quase enlouqueço. Viro tempestade em questão de segundos, mas a calmaria é algo que chega fácil e dura muito tempo.
Sei que talvez não sejam essas cores carregadas, o que se espera das Mulheres Perfeitas (assim, com letra maiúscula, pois são praticamente uma instituição). Acontece que já desisti de entrar pro clube. Eu tentei. Juro que durante anos eu tentei. Muito. Mas não aconteceu e agora eu entendo o motivo.
Sou imperfeita demais para caber nesse molde rígido que inventaram sabe Deus onde. Sou feita de uma matéria que pode até se enquadrar à forma, mas que tem memória e acaba por voltar ao formato inicial. Sou intensa demais, expansiva demais para caber em um modelo tão certinho. Tenho muitas fraquezas e preciso confessar: tenho uma queda enorme por viver!
Beijinhos
Fê Coelho
5 comentários:
Bom, primeiro: Ou você escreve bem demais ou eu não sou tão desapegado a crônicas assim. Mais possível da primeira ser verdade.
Segundo: Desculpa mas eu vou ter que me parafrasear "Por que toda mulher bonita e inteligente tem que ser complicada?".
E não me venha com xurumelas! xD
Bjo.
Quando, às vezes, me fala que sou parecida com você em algumas coisas...
Enquanto lia fui lembrando do meu cotidiano e dizendo... É assim mesmo.. (rsrsrsr), Bom saber que NUNCA vou ser perfeita... A melhor parte da imperfeição é a perfeição.
BEIJOS Fê
Mulher complicada?! Isso lá existe?! (rs)
Oi, Fernanda, mas que texto lindo, bem escrito e intenso; muito intenso, tanto quanto você! Amiga, me vi em sua crônica, pois sou de vibrar na escala 1000 ou colocar tudo por água abaixo quando não me sinto bem em determinadas situações. Não aceito o que não foi feito pra mim. Porém solto balões pelas coisas simples e sinceras, que emanam do fundo da alma mais doce.
bjs.
Fê, outro dia vim aqui e coloquei em dia a minha leitura. Não comentei por que ando na maior correria, atrazadérrima com certos compromissos. Até comentei por email com Taís sobre suas crônicas, como elas estão cada vez melhores!
Essa em especial caberia no meu blog, na minha vida, na minha história... Fui lendo e a cada frase eu pensava: não é possível!... como somos parecidas!
Eu assim como vc, não suporto falsos elogios! Não faço e quando recebo um, tenho um radar que prontamente o detecta. Não tolero hipocrisias. Mas o mesmo radar capta também aqueles sinceros, que tem outro tom, outra 'cor'. Digo que eles são cristalinos como um lago de águas paradas... aí eu me derreto toda, fico com o coração saltitante rsrs.
Eu havia colocado no meu perfil a seguinte frase : “Não me dôo pela metade, não sou tua meia amiga, nem teu quase amor! Ou sou tudo, ou não sou nada!”... É exatamente assim que eu sou... Mas vc deve saber que por sermos assim, não agradamos a maioria das pessoas... Preferem as ‘mornas’, as ‘politicamente corretas’, as com ‘jogo de cintura’... Aquelas que conseguem, sem muito esforço, agradar a todos. Sem culpa por que não se qualificam como mentirosas, são apenas educadas, polidas... Que bom! Elas não sofrem, sofremos nós com a nossa transparência e autenticidade.
“Sou intensa demais, expansiva demais para caber em um modelo tão certinho.” Vc ARRASOU com essa frase!!!
É tudo que esperam de nós, que sejamos certinhas, comedidas, recatadas, uma espécie de maquina matematicamente programada... Somos gente extravasando emoções, é tudo que eu sei.
Transcrevo aqui o que escrevi no meu blog: “Não vim ao mudo para ser espectadora. Prefiro subir ao palco e dançar”... Com aplausos ou vais. Já passei da idade de tentar me encaixar dentro de um contexto que não é o meu. Já descobri que tenho que me preocupar mais com a minha consciência do que com a minha reputação. Como disse Drummond “A sua consciência é o que vc realmente é. A sua reputação é o que os outros pensam de vc. E o que os outros pensam de vc não tem a menor importância”.
Mil bjokas, que Deus a conserve sempre assim: lúcida, franca e com muitos encantos!
Sueli Gallacci
Alexandre, Isa, Tais e Sueli. Muuuito obrigada pelos comentários e elogios. Fico sem palavras para agradecer o carinho com meus escritos. Beijo enorme pra vocês.
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