segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Diga-me, menina, o que vai ser?



- Diga-me, menina, porque você está rindo? Entendeu a pergunta que te fiz?

- Não sei. - respondeu a menina - Mas entendi uma ou duas coisas desde a nossa última conversa.

- Tenho visto você a pensar, a se debater entre questionamentos e estou curioso. Diga-me, menina, o que entendeu?

- Entendi que a pessoa mais difícil de se perdoar é - adivinhe - você mesmo e que, paradoxalmente, esse é o perdão que importa, afinal. Compreendi que nosso elogio é o mais complicado de se conquistar, mas é o mais gratificante que se pode receber. Percebi que minhas escolhas anteriores podem simplesmente ser alteradas por novas opções, embora eu não possa fugir das consequências advindas do passado. Aprendi a sentir orgulho de mim mesma e a me olhar com um certo distanciamento, para me enxergar melhor. Descobri que não tenho razão, nem estou errada em tudo. Entendi que estou crescendo e mudando o tempo todo e que sou responsável por administrar essas mudanças. Compreendi que ainda me prendo a um milhão de convenções e que, provavelmente ainda estarei acorrentada a muitas delas ao longo da vida. Descobri que sua pergunta tinha muito menos a ver com o resultado final do que com o caminho percorrido para chegar a ele.

- Então diga-me, menina, o que você vai ser quando crescer.

- Serei o que conseguir ser, resultado de minha história e de meus sonhos. Serei o que tiver que ser, sem a necessidade de superar um modelo irreal. Farei minha história como quem tece, um fio por vez, uma anedota por fio, uma pessoa por anedota. Serei realizações, impressões, sonhos e frustrações. Serei a luta que travo todos os dias, para manter o curso da vida. Serei o resultado de escolhas certas e erradas, de passos ora acertados, ora trôpegos. E, muito provavelmente, serei a pessoa que há de desdizer tudo o que te digo agora, porque entendeu coisas que não poderia compreender no momento atual.

- Acho que a gente se vê dentro de algum tempo, menina. Ainda há muito o que pensar, muito o que concluir. Você ainda há de me entender. Até lá, não deixe de pensar. O que você vai ser quando crescer, menina?

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