Uma das músicas mais bonitas e mais tristes que conheço leva o nome de Epitáfio e chegou-me aos ouvidos pela televisão, assistindo a um clipe dos Titãs. Àquela época, no auge da inocência (e da sensação de maturidade) que só a adolescência pode proporcionar, julguei-me capaz de apreciar a música. Mal sabia eu, entretanto, que apenas captava sua melodia. Os versos só foram compreendidos muito recentemente e talvez eu ainda tenha apenas uma percepção parcial do que eles representam.
Penso que colecionar várias coisas que deveriam ter sido feitas deve ser algo muitíssimo frustrante ao final dessa sequência de dorme e acorda que é a vida. Porque se tudo se resume a isso - abrir e fechar os olhos - a diferença que se encontra entre a vida de um e outro indivíduo é o recheio, o que ele andou fazendo entre o acordar e o dormir.
Talvez tudo passe pela maneira de encarar a vida. Talvez o possível autor do epitáfio de que trata a música estivesse apenas tendo um dia ruim. Ou quem sabe ele realmente tenha se arrependido de ter vivido uma vida estressante e de alguma forma apenas morna. De qualquer maneira, não importa o estado de espírito do narrador, ele me levou a pensar sobre minha própria vida e tirar desse matutar uma conclusão: Se eu precisasse escolher uma só palavra para dar o tom aos meus dias, seria "coragem".
Não quero com isso dizer que sou uma pessoa totalmente corajosa. Sei que um milhão de vezes por dia me acovardo diante de fatos concretos e possibilidades lá no limbo. Mas reconheço que andei agarrando a vida com as unhas, que andei fazendo uma e outra escolha difícil e que tenho me sentido mais forte do que me sentia há um ano, por exemplo.
Sabem o que acontece? Todos os dias, quando a gente abre os olhos, a vida pergunta: "E aí? O que vai ser?" e te dá o dia inteiro pra escolher. É todo um fotoperíodo de possibilidades, de escolhas que você pode fazer e controlar. É mais um abre e fecha de olhos que você pode modelar como massinha ou ver passar como água de rio. É tudo uma questão de escolha. Sempre foi e não vai deixar de ser. Mas não se engane: mesmo as escolhas pequenas exigem coragem.
É preciso coragem pra largar um saco de batatas fritas, abrir mão dos doces em excesso, calçar um tênis e sair para uma caminhada. Sabe por quê? Porque isso significa mudar. E mudanças, não importa o tamanho, exigem valentia. Nem sempre é fácil trocar algo com o qual se está acostumado e ir em busca do desconhecido.
É necessário bravura para aceitar as pessoas, os problemas, os dias ruins e mesmo os bons. Porque tem gente que não tem coragem de assumir que está feliz. Algumas pessoas são tão agarradas às suas reclamações, que aceitar a felicidade torna-se um dos Trabalhos de Hércules. E fico me perguntando de onde vem essa política de apologia ao sofrimento. Questiono-me sinceramente sobre o motivo de todo mundo gostar de dizer que as coisas vão mal. E pior: as pessoas gostam de falar que está tudo lascado, sem, no entanto, fazer nada para melhorar.
Coragem, minha gente, o tempo está passando. Coragem, que os olhos lá vão se abrindo e fechando. Coragem, pra rechear os dias com boas escolhas. Bravura, pra aceitar o curso da vida, para abrir o caminho à base de atitudes.
Não se pode fechar os olhos para o fato de que cada um faz de sua própria vida o que escolhe fazer. Mesmo que haja problemas, por mais que os imprevistos e tombos existam, há sempre um meio de refazer as situações. Há sempre um meio de reconstruir o que quer que seja. Porque, no final das contas, as pessoas podem te derrubar, mas não podem tirar sua disposição para se levantar.
Beijinhos
Fê Coelho
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