quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Chico


Nem todos os personagens dariam boas pessoas; assim como nem todas as pessoas viram bons personagens. Todavia, vez em quando, calha de essas duas coisas se encontrarem e aí, meu amigo, é uma festa só! Conheci uma criatura assim, com pinta de personagem, essa semana. Seu nome? Chico.

O Chico é o dono de uma livraria situada na Universidade de Brasília (UnB) e, pelo que eu entendi, se a gente procurar direito, encontra uma daquelas plaquinhas de patrimônio nele. São, afinal, trinta e cinco anos na Universidade. Não tivemos muito tempo para conversar sobre a sua história; ele está o tempo todo atendendo alguém.  Mas nem precisava. Eu não fora ali atrás disso; queria mesmo era conhecer a pessoa, o personagem-Chico. E foi o que fiz.

Cheguei logo depois do almoço, dirigi-me ao balcão de informações e perguntei pela livraria do senhor Francisco. O guarda olhou para mim com uma cara engraçada, de quem não está entendendo muito bem. Precisei explicar: "estou procurando a livraria do seu Francisco - o que apareceu na televisão, há uns dias". Aí tudo fez sentido. "Ah! Você está procurando a livraria do Chico!" - disse-me ele. E saindo do seu posto, o guarda deu uns poucos passos e me mostrou a entrada do estabelecimento. Trata-se de uma sala pequena, com paredes cobertas por prateleiras abarrotadas de livros. Pelo que pude perceber, existe alguma catalogação; embora desconfie que a lógica de distribuição das coisas esteja prioritariamente na cabeça do livreiro. Há poucos bancos e, acredite, eles não ficam desocupados por muito tempo. As pessoas que observei entravam na livraria e acabavam ficando um bocadinho.

O Chico não estava lá. Esperei. E quando ele chegou, estava sorridente, apressado e com as mãos cheias de sacolas abarrotadas de livros.

Apresentei-me com um "Oi Chico. Sou Fernanda, a escritora que te ligou ontem, lembra?". Sua resposta não poderia ter sido mais original. Tirou de uma das sacolas um livro do Paulo Leminski, abriu numa página qualquer e me disse: "lê esse poema pra gente." Olhei para as pessoas dentro da pequena livraria e, sentindo que não tinha muita escolha, li. As pessoas aplaudiram e o livro passou para as mãos de outro frequentador, que foi aplaudido e seguido por mais uma leitura. "O Leminski ultrapassou um best seller cinzento em número de vendas no Brasil" - ele dizia - "vamos ler para comemorar!". E assim, todos os clientes que entravam na livraria liam um poema antes de saírem. Penduravam a conta, mas não a leitura.

Foi uma tarde excelente, com boa prosa, bons versos e muitas risadas. Isso me deixou feliz, mas as entrelinhas daquela tarde me encantaram muito mais.

Percebi que eu estava diante de um homem com origem muito simples e que fez sua história sobre um caminho de parágrafos e páginas. Entendi, mais uma vez, o poder que as palavras têm para fazer diferente a vida das pessoas e para aglutinar. Admirei a força que há por trás do trabalho que é feito com amor e saí levando comigo um pouco dessa energia boa, dessa vontade de construir, de realizar. Trouxe para casa um livro de poesias devidamente autografado pelo autor, Daniel Faria, e um bocado de paz interior - do tipo que se consegue quando se vê algo simples, sábio e - pela falta de palavra que descreva melhor - bacana (muito bacana!).

Despedi-me após prometer que voltava.
- Você vai voltar logo, não vai?
- Vou sim, Chico. Adorei conhecer a sua casa.

E sinto que nesse ponto, talvez tenha sido injusta: aquela não é a casa do Chico; é o seu castelo!


Beijinhos
Fê Coelho





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