Quem nunca se pegou com aquele pensamento procastinador e - confessemos - meio covarde de deixar para depois? Existem algumas situações com as quais preferiríamos não lidar, seja porque nos é incômodo, porque não sabemos como resolver ou até porque não gostaríamos de dar um fim a elas. Então passamos um bom tempo vivendo como se o problema em questão não existisse, ou como se não passasse de um enfeite, um bibelô qualquer. Aí reside a encrenca toda: problemas não são bibelôs! Perrengues não são coisas estáticas, que podem ficar anos a fio relegadas a um canto, para depois serem resolvidas. Problemas são como filhotes de elefante que se criam na sala de casa e que cedo ou tarde vão acabar ocupando todo o espaço disponível - a menos que se dê a eles um destino apropriado.
Eu exemplifico. Com o advento da banda larga, o surgimento dos dispositivos móveis e toda essa parafernália tecnológica que eu falharia miseravelmente em descrever, surgiu a oportunidade da educação à distância - uma excelente pedida para quem tem o mínimo de disciplina. Confesso que não é a primeira vez que tento essa modalidade de ensino. A diferença é que agora vai! Não foi só um curso que ficou pelo caminho, sem que eu o terminasse. Das outras vezes, a procastinação - que era apenas um fofo e insistente bebê elefante - tornava-se adulta e impossível de se lidar, tal qual um elefante adulto e barulhento. O prazo acabava, a paciência também e lá se ia o meu tempo e o meu dinheiro pelo ralo - exatamente porque falhei em lidar com um problema enquanto ele era pequeno. É exatamente o que estou tentando fazer agora: dar um destino aos maus-hábitos, manias e perrengues enquanto posso lidar com eles.
Não quero dizer que seja fácil. A maior parte das vezes temos problemas de estimação - inseguranças, medos, hábitos, ciúmes, crenças e situações - dos quais não conseguimos nos livrar. Isso me faz lembrar de uma anedota que ouvi, não me recordo bem onde ou quando, e que narra a história de uma pessoa que atravessava um rio agarrada a uma pedra. À medida que a pessoa se afogava, os amigos gritavam para que ela soltasse a carga. A isso, ela teria respondido: "não posso, porque essa é a Minha Pedra". Em outras palavras: é o meu ciúme, o meu espaço, o meu medo, o meu emprego, o meu relacionamento, o meu desejo de salvar o mundo, a minha crença de que eu posso mudar as pessoas, e por aí vai. Afogamo-nos, mas não largamos. Deixamos que o problema cresça, mas não o resolvemos.
A questão é que, assim como os elefantes, tudo o que alimentamos cresce e consome mais e mais de nós. O que é nocivo piorará; seja por questões práticas ou pela nossa inaptidão em resolver a situação. Os monstros embaixo da cama adquirirão mais escamas, os medos aumentarão, as mentirinhas e pequenas ilusões renderão grandes perdas. O essencial é ter coragem para reconhecer o que pode ser um bebê elefante - por mais fofo que seja, por mais gentil, desprotegido ou mesmo ameaçador que seja - e então desapegar. Porque em algum momento a gente aprende: algumas coisas são necessárias; outras não.
Beijinhos
Fê Coelho
Beijinhos
Fê Coelho
0 comentários:
Postar um comentário