segunda-feira, 15 de abril de 2013

Gente Avulsa



Sem saber por que, sempre tive certa admiração por pessoas que andavam sozinhas. Achava, quando criança, lindo ver fotos de mulheres superfelizes de braços abertos na praia ou olhando para o nada com um sorriso cinematográfico estampado no rosto. Outras imagens que me atraíam eram as fotos de mulheres muito respeitáveis, caminhando felizes e sozinhas por uma rua, cheias de sacolas de compras. Havia ali algo apelativo, absolutamente encantador. Era algo que eu queria para mim, mas o que era mesmo?

Àquela época, eu não tinha como compreender o motivo de tal fascínio. Hoje entendo que aquilo que realmente me era apelativo  não era outra coisa senão a sugestão de liberdade. Encantava-me a ideia de que alguém pudesse realmente aprender a viver e ir a todos aqueles lugares sem necessariamente estar acompanhado. Ora, considerando que eu era apenas uma criança e que precisava de um adulto responsável até para ir à esquina, esse raciocínio se justifica. Daí veio a sensação que durante muito tempo me acompanhou e que me dizia "não se pode ir muito longe sozinho".

Acontece que o tempo passou e eu mantive essa admiração pelas pessoas que andam por aí avulsas. Continuei a achar o máximo ver figuras de mulheres fortes e bem-resolvidas, indo e vindo, dirigindo para todo lado, tomando decisões e, claro, apreciando a própria companhia.

Talvez essas coisas tenham feito parte do meu imaginário por tanto tempo em função do quanto foi demorado o meu processo de aprender a estar só.

Ainda hoje essas pessoas têm lugar de destaque em minhas observações de cotidiano - de uma forma menos embasbacada, é verdade. Hoje ainda acho bacana, quando observo uma pessoa serena num lugar qualquer, comendo, lendo, caminhando ou apenas não fazendo nada - mas não tanto quanto antes. Talvez a situação tenha perdido aquele verniz de encantamento por um fato simples: hoje eu também faço isso. Não existe mais novidade nesse fato. Nada de extraordinário há por trás do silêncio de uma pessoa sentada a sós num parque qualquer - exceto um mundo interior tão rico quanto se pode supor, ou mais.

Dos olhos para dentro pode haver tristeza, saudade e medo; pode ser que exista solidão, ou alegria. Por trás da faixada distraída de alguém que está por aí descolado dos outros, pode haver apenas uma calma tranquila e bem resolvida, ou quem sabe haja pensamentos que gritam e fazem uma balbúrdia tão grande que é como se a criatura estivesse em meio a uma micareta.

Fato é que hoje eu sei: por trás do silêncio de uma pessoa só, pode haver tudo - absolutamente tudo, inclusive nada.

Beijinhos
Fê Coelho

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