Sem saber por que, sempre tive certa admiração por pessoas que andavam sozinhas. Achava, quando criança, lindo ver fotos de mulheres superfelizes de braços abertos na praia ou olhando para o nada com um sorriso cinematográfico estampado no rosto. Outras imagens que me atraíam eram as fotos de mulheres muito respeitáveis, caminhando felizes e sozinhas por uma rua, cheias de sacolas de compras. Havia ali algo apelativo, absolutamente encantador. Era algo que eu queria para mim, mas o que era mesmo?
Àquela época, eu não tinha como compreender o motivo de tal fascínio. Hoje entendo que aquilo que realmente me era apelativo não era outra coisa senão a sugestão de liberdade. Encantava-me a ideia de que alguém pudesse realmente aprender a viver e ir a todos aqueles lugares sem necessariamente estar acompanhado. Ora, considerando que eu era apenas uma criança e que precisava de um adulto responsável até para ir à esquina, esse raciocínio se justifica. Daí veio a sensação que durante muito tempo me acompanhou e que me dizia "não se pode ir muito longe sozinho".
Acontece que o tempo passou e eu mantive essa admiração pelas pessoas que andam por aí avulsas. Continuei a achar o máximo ver figuras de mulheres fortes e bem-resolvidas, indo e vindo, dirigindo para todo lado, tomando decisões e, claro, apreciando a própria companhia.
Talvez essas coisas tenham feito parte do meu imaginário por tanto tempo em função do quanto foi demorado o meu processo de aprender a estar só.
Ainda hoje essas pessoas têm lugar de destaque em minhas observações de cotidiano - de uma forma menos embasbacada, é verdade. Hoje ainda acho bacana, quando observo uma pessoa serena num lugar qualquer, comendo, lendo, caminhando ou apenas não fazendo nada - mas não tanto quanto antes. Talvez a situação tenha perdido aquele verniz de encantamento por um fato simples: hoje eu também faço isso. Não existe mais novidade nesse fato. Nada de extraordinário há por trás do silêncio de uma pessoa sentada a sós num parque qualquer - exceto um mundo interior tão rico quanto se pode supor, ou mais.
Dos olhos para dentro pode haver tristeza, saudade e medo; pode ser que exista solidão, ou alegria. Por trás da faixada distraída de alguém que está por aí descolado dos outros, pode haver apenas uma calma tranquila e bem resolvida, ou quem sabe haja pensamentos que gritam e fazem uma balbúrdia tão grande que é como se a criatura estivesse em meio a uma micareta.
Fato é que hoje eu sei: por trás do silêncio de uma pessoa só, pode haver tudo - absolutamente tudo, inclusive nada.
Beijinhos
Fê Coelho
Beijinhos
Fê Coelho
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