skip to main |
skip to sidebar
Acredito que a maioria das moçoilas que moram sozinhas conhecem a figura de quem pretendo falar. O senhor Manoel - que eu carinhosamente chamo de Seu Manoel, Maneco ou, se estiver com muita raiva, Mané - é da turma da Isaura. Trata-se de uma das criaturas imaginárias e palpiteiras que fazem parte da Galera Aqui de Casa.
No que se refere a pequenos reparos, nossa sociedade é praticamente unânime: isso é papel de homem! Daí decorrem batalhas homéricas entre donas de casa revoltadas com a capacidade dos maridos para procastinar e maridos embasbacados com o quanto as mulheres podem ser insistentes - especialmente quando eles já disseram que vão dar um jeito em tudo. Acontece, leitor querido, que nem todas as leitoras têm um marido com quem brigar ou uma figura masculina para quem fazer beicinho, prometer vantagens ou argumentar a cada vez que uma pia entope, um varal despenca ou uma lâmpada queima. E é nesse ponto da conversa que surge a figura do Seu Manoel.
Seu Manoel é um distinto senhor, lá pelos seus setenta anos de idade. Viúvo, teve que aprender como educar seus doze filhos, hoje dispersos por esse mundão velho e sem porteira. Desconfio que ele tinha uma veia inclinada às ciências humanas, porque quis viver a experiência de cuidar dos filhos, só pra saber se era possível. E foi. De alguma forma, isso transformou profundamente o sistema de crenças do Seu Manoel e fez dele uma espécie de feminista. Hoje ele se diverte fazendo visitas a mulheres que precisem fazer o que ficou rotulado como "coisa de homem". O objetivo é incentivá-las a serem fortes, independentes e bem-resolvidas. Tenho cá minhas dúvidas sobre a pureza das suas intenções. Todavia, continuemos.
Meu primeiro contato com o Maneco foi durante a faculdade, quando um ralo de banheiro entupiu. Considere, o leitor, que eu morava num apartamento dividido com outras três mocinhas. O ralo estava entupido. O banheiro não funcionava. Ninguém queria pôr a mão para resolver o problema (convenhamos que isso é nojento). Aí o Seu Manoel chegou, usando um paletó xadrez com napa nos cotovelos, um lenço no bolso, e os cabelos grisalhos cheios de brilhantina escondidos dentro de uma boina. Lembro-me de que ele sorriu, olhou no fundo dos meus olhos e disse "Mas fia, isso é facim demais de resorvê! Ocê bota um saco na mão, tira a tampinha do ralo e vai com fé. Bota a mão lá dentro e arranca as tranqueira tudo de lá. Aí depois bota a tampa e vai tomar banho. Té parece que tem dificurdade nisso..." .
É como eu digo, leitor, a Galera Aqui de Casa faz o que quer comigo. Fato é que eu desentupi o ralo e de lá pra cá o Seu Manoel decidiu investir no meu potencial. Já me ensinou a trocar lâmpada, calibrar pneu de carro, consertar varal, ajeitar a TV quando ela resolve chiar, entre outras coisas. Quando eu penso que não vou resolver algo, ele aparece do nada e dispara "deixa de bobagem, fia. Isso aí é facim demais de resolver".
O problema é que ele é meio confuso. Nem sempre sabe bem o que está fazendo. Já peguei o Seu Manoel procurando vídeo tutorial no Youtube e sites do tipo "faça você mesmo". Aí ele se justifica, dizendo que no tempo dele era tudo mais fácil, que as gerações seguintes complicaram tudo. Mas não desiste, o danado! Vai dando um jeitinho, tentando outra forma de argumentar até que me convence. A menos que a Dona Expedita apareça e diga que quer um picolé de limão. Nesses casos, ele me abandona com a chave de fenda na mão e foge, vá saber pra onde.
Não sei se ele é um feminista que busca incentivar as mulheres a expandirem suas habilidades, ou se é um machista querendo convencê-las a darem uma folga aos seus maridos. Seu Manoel é dessas figuras que a gente não entende bem, mas aceita. Até porque quando ele resolve aporrinhar, é pra valer. Disse e repito: sou uma alma fraca, leitor. Trocar a lâmpada não é divertido, mas ver o Seu Manoel explicar até tem a sua graça. E que se registre: a mulher que nunca deu ouvidos ao Maneco, que atire a primeira bolsa!
Beijinhos
Fê Coelho
Plágio é crime e deve ser encarado como tal. A divulgação dos escritos é uma honra, mas os créditos são compulsórios.
Um espaço para dividir minhas crônicas, outros textos e percepções malucas.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Crônica de Quinta: Seu Manoel e Eu
Acredito que a maioria das moçoilas que moram sozinhas conhecem a figura de quem pretendo falar. O senhor Manoel - que eu carinhosamente chamo de Seu Manoel, Maneco ou, se estiver com muita raiva, Mané - é da turma da Isaura. Trata-se de uma das criaturas imaginárias e palpiteiras que fazem parte da Galera Aqui de Casa.
No que se refere a pequenos reparos, nossa sociedade é praticamente unânime: isso é papel de homem! Daí decorrem batalhas homéricas entre donas de casa revoltadas com a capacidade dos maridos para procastinar e maridos embasbacados com o quanto as mulheres podem ser insistentes - especialmente quando eles já disseram que vão dar um jeito em tudo. Acontece, leitor querido, que nem todas as leitoras têm um marido com quem brigar ou uma figura masculina para quem fazer beicinho, prometer vantagens ou argumentar a cada vez que uma pia entope, um varal despenca ou uma lâmpada queima. E é nesse ponto da conversa que surge a figura do Seu Manoel.
Seu Manoel é um distinto senhor, lá pelos seus setenta anos de idade. Viúvo, teve que aprender como educar seus doze filhos, hoje dispersos por esse mundão velho e sem porteira. Desconfio que ele tinha uma veia inclinada às ciências humanas, porque quis viver a experiência de cuidar dos filhos, só pra saber se era possível. E foi. De alguma forma, isso transformou profundamente o sistema de crenças do Seu Manoel e fez dele uma espécie de feminista. Hoje ele se diverte fazendo visitas a mulheres que precisem fazer o que ficou rotulado como "coisa de homem". O objetivo é incentivá-las a serem fortes, independentes e bem-resolvidas. Tenho cá minhas dúvidas sobre a pureza das suas intenções. Todavia, continuemos.
Meu primeiro contato com o Maneco foi durante a faculdade, quando um ralo de banheiro entupiu. Considere, o leitor, que eu morava num apartamento dividido com outras três mocinhas. O ralo estava entupido. O banheiro não funcionava. Ninguém queria pôr a mão para resolver o problema (convenhamos que isso é nojento). Aí o Seu Manoel chegou, usando um paletó xadrez com napa nos cotovelos, um lenço no bolso, e os cabelos grisalhos cheios de brilhantina escondidos dentro de uma boina. Lembro-me de que ele sorriu, olhou no fundo dos meus olhos e disse "Mas fia, isso é facim demais de resorvê! Ocê bota um saco na mão, tira a tampinha do ralo e vai com fé. Bota a mão lá dentro e arranca as tranqueira tudo de lá. Aí depois bota a tampa e vai tomar banho. Té parece que tem dificurdade nisso..." .
É como eu digo, leitor, a Galera Aqui de Casa faz o que quer comigo. Fato é que eu desentupi o ralo e de lá pra cá o Seu Manoel decidiu investir no meu potencial. Já me ensinou a trocar lâmpada, calibrar pneu de carro, consertar varal, ajeitar a TV quando ela resolve chiar, entre outras coisas. Quando eu penso que não vou resolver algo, ele aparece do nada e dispara "deixa de bobagem, fia. Isso aí é facim demais de resolver".
O problema é que ele é meio confuso. Nem sempre sabe bem o que está fazendo. Já peguei o Seu Manoel procurando vídeo tutorial no Youtube e sites do tipo "faça você mesmo". Aí ele se justifica, dizendo que no tempo dele era tudo mais fácil, que as gerações seguintes complicaram tudo. Mas não desiste, o danado! Vai dando um jeitinho, tentando outra forma de argumentar até que me convence. A menos que a Dona Expedita apareça e diga que quer um picolé de limão. Nesses casos, ele me abandona com a chave de fenda na mão e foge, vá saber pra onde.
Não sei se ele é um feminista que busca incentivar as mulheres a expandirem suas habilidades, ou se é um machista querendo convencê-las a darem uma folga aos seus maridos. Seu Manoel é dessas figuras que a gente não entende bem, mas aceita. Até porque quando ele resolve aporrinhar, é pra valer. Disse e repito: sou uma alma fraca, leitor. Trocar a lâmpada não é divertido, mas ver o Seu Manoel explicar até tem a sua graça. E que se registre: a mulher que nunca deu ouvidos ao Maneco, que atire a primeira bolsa!
Beijinhos
Fê Coelho
Marcadores:
A Galera Aqui de Casa,
crônicas,
Crônicas de Quinta,
humor
Quem sou eu
A autora por ela mesma
- Fernanda Coelho
- Uma pessoa muito bem humorada, otimista incorrigível, tentando se encontrar nesse mundo maluco.
Boas vindas.
Seja bem vindo você que vem curioso, que vem interessado ou mesmo desacreditado.
Seja bem vindo você que me lê e descobre-me aos parágrafos.
Aproveita as palavras que encontrar por aqui e fica à vontade: a casa é sua. Só não põe o pé na mesa.
Sejam todos bem vindos.
Beijinhos
Fê
Seja bem vindo você que me lê e descobre-me aos parágrafos.
Aproveita as palavras que encontrar por aqui e fica à vontade: a casa é sua. Só não põe o pé na mesa.
Sejam todos bem vindos.
Beijinhos
Fê
Obrigada pela presença
Eu apoio
Plágio é crime e deve ser encarado como tal. A divulgação dos escritos é uma honra, mas os créditos são compulsórios.
Catalogado por ideias
- A Galera Aqui de Casa (6)
- a vida (60)
- agradecimento (17)
- amigos (9)
- apresentação (2)
- cartão de crédito (1)
- cartas (14)
- Cartas para Ninguém (1)
- celular (4)
- contos (11)
- cotidiano (35)
- crônicas (100)
- Crônicas de Quinta (15)
- Em Dupla (1)
- encantadora de palavras (8)
- escrever (23)
- eu mesma (75)
- Eu que não falava de amor (1)
- fábulas (3)
- ficção (10)
- flores (1)
- historias infantis (6)
- home (1)
- humor (11)
- início (1)
- leitura de outros blogs (3)
- Leituras (3)
- listas (3)
- livros (4)
- maternidade (7)
- microcontos (5)
- o tempo (7)
- Papai Noel (1)
- Papo Sério (2)
- ponto final (2)
- reflexões (83)
- selos (2)
- série crônicas de saco cheio; (4)
- série desventuras no metrô (3)
- série sentimentos (71)
- série ser mãe é (15)
- sobre o amor (1)
- versos (5)
Posts que mais encantaram os leitores
-
Conheço você desde que me entendo por gente. Aprendi a andar ao seu redor, ou seria para fugir de você? Aprendi a falar para te pedir al...
-
Depois que me tornei mãe muitas coisas mudaram em mim. Coisas que eu não imaginava e que não pensava serem possíveis. Me tornei mais tol...
-
Não pedi por você. Nunca me perguntaram se eu queria um irmão menor, branquelo, de bochechas enormes e vivíssimos olhos escuros. Não c...
-
Achei que não fosse postar nada sobre o Natal, mas tenho recebido um bocado de mensagens carinhosas. Então acredito que pode cair bem, uma c...
-
Se existe algo fácil de se fazer, é irritar uma pessoa infeliz. Pessoas amargas, pessimistas e chatos em geral, então, são o que há de m...
-
A menina sonhava com um corselet. Desejava ardentemente se ver dentro de um, porque afinal de contas, todas as meninas da sua turma achava...
-
Se hoje alguém me pedisse um conselho, apenas um, eu diria: seja como os ipês. Tenho uma queda por eles, é verdade. Não escondo de nin...
-
Sabe, eu gosto de coisa simples. Gosto daquelas partes da vida em que tudo anda meio descomplicado, quando a gente olha e sabe bem o que...
-
Faz um tempo, me disseram que eu penso demais. Na época - como em tantas outras situações - eu não compreendi as implicações desse fato. Ai...
-
Estava aqui olhando as pessoas postarem citações e o pensamento voou. Foi inevitável, como tantas vezes acontece e me vi no meio de um que...
Blogs que acompanho
-
-
FÉRIAS DE VERÃO !Há 5 dias
-
Ainda estou aquiHá 5 meses
-
-
Glimpses of the PastHá 4 anos
-
-
da intensidadeHá 8 anos
-
-
-
EntrelaçadasHá 10 anos
-
-
リースという選択Há 11 anos
-
Cheiro de Terra MolhadaHá 11 anos
-
OpostoHá 11 anos
-
Tudo pode acontecerHá 12 anos
-
Quando somos prejulgados...Há 12 anos
-
-
-
Tudo passa...Há 13 anos
-
Interdição...Há 14 anos
-
-
-




0 comentários:
Postar um comentário