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Há algum tempo me aconteceu um momento de contemplação. Havia chegado do trabalho cansada. O dia fora longo e os pacientes exigentes. Foi necessário contornar um ou dois problemas e distribuir alguns sorrisos a mais – alguns demandaram mais esforço, outros menos. Sempre canto no caminho para o metrô, mas naquele dia nem uma notinha se manifestou – nem mesmo a marcha fúnebre. Estava vazia, esgotada de verdade. A sensação desses dias é de que deixei tudo com as crianças no trabalho, de que me esvaziei por completo. Cem por cento de doação.
Chegando a casa, rotina normal. Meu marido estava na sala, assistindo a um reality show, desses em que a equipe constrói uma casa em uma semana para alguma família cheia de problemas. Pensei: todo mundo tem problemas, mas nem todo mundo ganha uma casa. Ai que fome. Meu marido e eu fomos a uma dessas carrocinhas de cachorro quente, pioramos a situação de nossas artérias e fomos buscar as meninas numa festinha de aniversário.
Festinha animada. As crianças estavam eufóricas. Saíram, as duas, com uma coroa de princesa e um pote de guloseimas cada – um clássico das festas infantis. Voltando para casa, chegou o momento de lidar com o choro. A quantidade de sono de uma criança e o número de decibéis do choro é diretamente proporcional. Paciência. Crianças não têm como lidar com irritação da mesma maneira que os adultos deveriam. Para a mais nova, um banho rapidinho, mamadeira, fralda e pijaminha – do Mickey. Para a mais velha, o mesmo pacote, com exceção da mamadeira e da fralda.
Foi então que meu humor começou a mudar. “Mamãe, posso deitar na sua caminha”, a minha caçula pediu. “Claro, filhota”. Exceção à regra. Meu marido levantou a sobrancelha. Eu ignorei. Fiquei ali, deitada, com os bracinhos da minha pequena ao redor do meu pescoço. A perninha dela descansava sobre o meu quadril. Pude observar o movimento leve dos seus olhos – aparentemente já estava sonhando. Fiquei maravilhada com a maneira como sua boquinha entreaberta deixava entrever os dentes, com o desenho das sobrancelhas e as curvas das bochechas, com o som de sua respiração, com o toque macio dos seus cabelos. Admirei minha filha com todos os meus sentidos, tentando guardá-la daquele jeito na memória. Foi quando observei que havia me emocionado. Chorei diante daquela parcela de paz, da serenidade que se pode experimentar quando se está disposto a isso. Percebi que raras vezes dei tanto valor a coisas que não havia perdido.
Valorizei a integridade do meu corpo e minha capacidade de raciocinar e amar. E me senti grata pelos meus problemas diários, pelo meu trabalho e, especialmente e primordialmente, pela minha família.
Coloquei minha pequena no berço e passei para a rotina de sono da mais velha. Rezar e cantar. E desta vez, a parte dos agradecimentos foi mais extensa. Percebi que temos muito a agradecer. Não porque é de praxe, mas porque tive, naquele dia, uma pequena amostra da maravilha que é o sentimento de gratidão. Rezamos e ao colocar minha outra filha na cama, cantei uma das suas canções favoritas: Como é grande o meu amor por você.
Suspirei e me permiti ser, por uma noite, apenas feliz.
Foto: Public Domain Pictures
Beijinhos
Fê
Plágio é crime e deve ser encarado como tal. A divulgação dos escritos é uma honra, mas os créditos são compulsórios.
Um espaço para dividir minhas crônicas, outros textos e percepções malucas.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
De como percebi a diferença entre agradecer e se sentir grato
Há algum tempo me aconteceu um momento de contemplação. Havia chegado do trabalho cansada. O dia fora longo e os pacientes exigentes. Foi necessário contornar um ou dois problemas e distribuir alguns sorrisos a mais – alguns demandaram mais esforço, outros menos. Sempre canto no caminho para o metrô, mas naquele dia nem uma notinha se manifestou – nem mesmo a marcha fúnebre. Estava vazia, esgotada de verdade. A sensação desses dias é de que deixei tudo com as crianças no trabalho, de que me esvaziei por completo. Cem por cento de doação.
Chegando a casa, rotina normal. Meu marido estava na sala, assistindo a um reality show, desses em que a equipe constrói uma casa em uma semana para alguma família cheia de problemas. Pensei: todo mundo tem problemas, mas nem todo mundo ganha uma casa. Ai que fome. Meu marido e eu fomos a uma dessas carrocinhas de cachorro quente, pioramos a situação de nossas artérias e fomos buscar as meninas numa festinha de aniversário.
Festinha animada. As crianças estavam eufóricas. Saíram, as duas, com uma coroa de princesa e um pote de guloseimas cada – um clássico das festas infantis. Voltando para casa, chegou o momento de lidar com o choro. A quantidade de sono de uma criança e o número de decibéis do choro é diretamente proporcional. Paciência. Crianças não têm como lidar com irritação da mesma maneira que os adultos deveriam. Para a mais nova, um banho rapidinho, mamadeira, fralda e pijaminha – do Mickey. Para a mais velha, o mesmo pacote, com exceção da mamadeira e da fralda.
Foi então que meu humor começou a mudar. “Mamãe, posso deitar na sua caminha”, a minha caçula pediu. “Claro, filhota”. Exceção à regra. Meu marido levantou a sobrancelha. Eu ignorei. Fiquei ali, deitada, com os bracinhos da minha pequena ao redor do meu pescoço. A perninha dela descansava sobre o meu quadril. Pude observar o movimento leve dos seus olhos – aparentemente já estava sonhando. Fiquei maravilhada com a maneira como sua boquinha entreaberta deixava entrever os dentes, com o desenho das sobrancelhas e as curvas das bochechas, com o som de sua respiração, com o toque macio dos seus cabelos. Admirei minha filha com todos os meus sentidos, tentando guardá-la daquele jeito na memória. Foi quando observei que havia me emocionado. Chorei diante daquela parcela de paz, da serenidade que se pode experimentar quando se está disposto a isso. Percebi que raras vezes dei tanto valor a coisas que não havia perdido.
Valorizei a integridade do meu corpo e minha capacidade de raciocinar e amar. E me senti grata pelos meus problemas diários, pelo meu trabalho e, especialmente e primordialmente, pela minha família.
Coloquei minha pequena no berço e passei para a rotina de sono da mais velha. Rezar e cantar. E desta vez, a parte dos agradecimentos foi mais extensa. Percebi que temos muito a agradecer. Não porque é de praxe, mas porque tive, naquele dia, uma pequena amostra da maravilha que é o sentimento de gratidão. Rezamos e ao colocar minha outra filha na cama, cantei uma das suas canções favoritas: Como é grande o meu amor por você.
Suspirei e me permiti ser, por uma noite, apenas feliz.
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A autora por ela mesma
- Fernanda Coelho
- Uma pessoa muito bem humorada, otimista incorrigível, tentando se encontrar nesse mundo maluco.
Boas vindas.
Seja bem vindo você que vem curioso, que vem interessado ou mesmo desacreditado.
Seja bem vindo você que me lê e descobre-me aos parágrafos.
Aproveita as palavras que encontrar por aqui e fica à vontade: a casa é sua. Só não põe o pé na mesa.
Sejam todos bem vindos.
Beijinhos
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8 comentários:
Gostei de seus texto, Fernanda, muito bom. Vê-se logo que você tem experiência tanto como mãe quanto como escritora!
Grato pelos comentários em meu blog!
Aliás, falando em dicas para escritores, você já viu que a Sonia Belloto vai dar um curso aqui em Brasília? Devo estar postando algo a respeito em meu blog (de novo...) esta semana!
Forte Abraço, e continue como a linda mãe e escritora que é!
Oi Alexandre. Bem vindo!
Os comentários no seu blog foram impossíveis de refrear, pois seus textos são muitíssimo agradáveis e úteis. Vou passar sempre por lá.
Quanto ao curso, meus olhinhos faiscaram, mas provavelmente vou estar trabalhando. Espero que em outra oportunidade, possa aproveitar melhor.
Um abraço e obrigada pelo incentivo.
adorei! muito emocionante!!!
vc é td de bom Fezinha!
bjos
Que bom que gostou, Josi. Seja muito bem vinda. Saudades de você. Beijos
Olá linda encantadora de palavras!
Vim retribuir a visita e te dizer quão encantadora são tuas palavras! Essa sua crônica me remeteu direto ao passado, quando meus anjos eram crianças (hoje, marmanjões que já passaram há tempos dos 30 rsrs) Mas, quanta saudades eu senti. Quantas vezes eu tive esse mesmo raciocínio teu! Quantas vezes descobri atônita, que felicidade genuína era aquilo mesmo: eles pequenininhos tão dependentes de mim, e eu procurava saborear cada momento antes que o tempo galopasse. Felizmente nunca me esqueci de agradecer por isso. Hoje sou grata por não ter me esquecido.
Fiquei duplamente feliz quando li este teu post. No meu blog A COR DA GENTE tem um vídeo que eu fiz para o meu netinho (Netos são filhos com açúcar) cujo tema é essa musica do RC “Como é Grande o Meu Amor por Você”... eu também cantava e ainda canto até hoje para eles.
Bjo Gde, amiga!
Sueli Gallacci
Oi Sueli.
Muito obrigada pela visita=)
Imagino que deve ser realmente bom conseguir lembrar de muitas coisas, já que a cabeça da gente fica deletando parte de tudo o que acontece.
Obrigada pelo comentário tão carinhoso. Pode aguardar outras visitas minhas em breve.
Beijinhos
Fê
Fernanda, que lindo seu blog e principalmente seus textos!
Parabéns!!
Adorei ler! qto mais a gente lê, quer mais e mais...
Uma delícia!!
Esse então, maravilhoso!
Mais sucesso para vc!!
Abçs
Juliana da FEN!!
Nuna esqueci da Maria Fernanda, muito linda desde bebezinha, e a Júlia é uma fofura tb, parabéns por elas!!
Ei Juliana. Seja bem vinda ao blog. Fique à vontade para ler, comentar e recomendar.(rsrs)
Saudades de vocês todos lá da FEN. E as meninas, você viu o tamanho?
Beijos
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