Era a escritora miudinha. Pequenininha, com um ou dois degraus subidos, mas com uma vontade enorme de conhecer a escada. Era a escritora miudinha, ainda tentando entender o processo. Peixe pequeno se aventurando fora do coral.
Tem sobrenome de bicho, essa escritora. E tem consigo essa simplicidade; esse não saber, que de tanto não saber acaba descobrindo alguma coisa. Não consegue usar as formas mais rebuscadas da língua. Não sabe jogar purpurina pra todo lado. Toda ela é meio assim, sem rodeios. Pensa o que quer dizer, sente a forma como quer que sintam e escreve. Descomplicada essa escritora com nome de bicho.
Já pensou que queria ser cantora, mas cantora não pôde ser. Não conseguia saber a diferença entre tons e ritmos, nem se adequar ao som. Mas ela sempre viu o pôr do sol em forma de texto. Sempre se encantou com tudo o que viu, com as histórias que encontrou e com as formas de contá-las. Gostava de poesia, aquela criança miudinha, e de livros, e de arte. Nunca soube classificar bem as coisas, mas sentia todas elas. Vive um eterno sentir, essa criatura.
E talvez seja por isso que ela escreve: porque sente além da conta; porque pensa e vira frase a cada esquina do caminho; porque transforma tudo em texto. Alguns ela guarda consigo, outros ela encerra no coração. Mas alguns ela manda espiar o mundo, como a pomba do dilúvio, meio que para saber se é seguro. E os textos obedecem. Fluem, saem e voam. Encontram corações e fazem morada. Ou ficam por apenas um segundo. Ou não ficam. Mas eles seguem viagem. E voltam trazendo notícias do mundo de lá.
Curiosa essa escritora com nome de bicho, que gosta de crianças; que quer ter sempre o olhar como o delas. E que, se dizendo escritora infantil, mesmo assim se sente em dívida de sinceridade com o amigo leitor adulto. Escritora teimosa que fala de tudo, mas que teima em não falar de amor.
Ah escritora danada. Aprende que não é você que escolhe as palavras; elas é que fazem morada no seu coração e passeiam pelos seus dedos. Aprende escritora com nome de bicho. Nessa brincadeira, você é sempre a pega.
Feliz dia do escritor.
Beijinhos
Fê Coelho
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