Muitas vezes já argumentei que prestamos um péssimo favor a nós mesmos quando transformamos a felicidade Na Felicidade, assim, com letra maiúscula e fogos de artifício. Tornamo-nos reféns de cenas idealizadas, com trilha sonora e luz bem posicionada. Com isso, abrimos mão de perceber a doçura que se esconde nos pequenos contentamentos, nos instantes - esses pequenos pedaços de que é feita a nossa vida. Passamos a nos importar tanto com o fato de conseguirmos um quadro perfeito, que infinitas vezes perdemos a capacidade de apreciar a beleza das tintas na tela.
E nesse afã de encontrar a tal Felicidade - pura, límpida e com selo de qualidade - deixamos passar por nós as oportunidades de sermos realmente felizes. Sabe, leitor, o mar não trabalha em câmera lenta e nem sempre parece o Caribe. Mas ainda está lá. A areia ainda está sob os pés das pessoas; o barulho das ondas e a maresia persistem. A vida não é videoclipe, mas isso não a torna menos bela - apenas faz dela algo real e possível. Da mesma forma os relacionamentos são apenas relacionamentos. São o encontro de duas pessoas que podem ou não se entenderem bem. Por mais bonita que seja a história, idealizá-la seria tirar-lhe a autenticidade, aquilo que faz dela algo único e, por isso mesmo, tão bonito.
Tentar transformar a vida numa comédia romântica ou num comercial de margarina é injusto. Esperar que a felicidade venha polida, cintilante e musical é tão tolo quanto esse hábito de exagerar nos editores de imagens em fotos de mulheres lindas. É reconhecer que o que se tem, embora lindo, nunca será o suficiente.
Talvez o grande barato seja aproveitar a beleza do céu num dia de nuvens que se desmancham como chumaços de algodão; ou o cheiro do café coando, ou a gargalhada de alguém que a gente ama. Quem sabe a felicidade se aninhe no calor de um abraço apertado; quem sabe se esparrame pelo verde dos morros que a gente vê durante uma viagem. Pode ser que a Dona Felicidade tenha esse hábito das doses homeopáticas. Ou quem sabe ela não faça nada e apenas nos observe enquanto somos felizes.
Desconfio que a felicidade seja uma mulher esperta; simples, tão simples e silenciosa que nem sempre percebemos sua presença. Mas basta olhar atentamente, que ela está lá. De alguma forma, ela sempre está.
Beijinhos
Fê Coelho.
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