segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lar



Lar é onde a gente descansa o bumbum - disse um dos meus personagens infantis favoritos: o Pumba. Ainda  hoje acredito que ele tenha acertado em parte, visto que lar é onde nossos melhores pensamentos repousam, para onde vamos sempre que podemos e por escolha, sem o peso de estar por força das circunstâncias. Um lar passa bem longe de ser apenas um dormitório.

Não sei por que razão eu insisto em discutir assuntos já consolidados no imaginário coletivo. Talvez porque pense demais, talvez porque saiba de menos. Fato é que andei refletindo e concluí que nosso lar pode não coincidir com o lugar em que moramos, especialmente porque esse termo me parece trazer consigo uma carga emocional. Sinto que não existe um lar sem vínculos. Quero dizer, alojamento, dormitório, casa ou outro desses termos que apenas necessitam de tijolos, argamassa e teto para existir, qualquer lugar pode ser; ao passo que para ser chamado de lar, um lugar precisa ter afeto. É necessário que se fixe raízes, que se esteja emocionalmente ligado ao espaço, ou às pessoas ali.

Caso até bem recentemente me perguntassem se alguém poderia ter um lar e ainda assim não habitá-lo, eu riria e diria que não. Ora, que pergunta mais sem pé nem cabeça! Acontece que hoje eu levanto a bandeira contrária. Não duvide, o leitor, dos melindres do tempo; nem se feche à possibilidade de que os caminhos que estamos destinados a percorrer sejam bem mais inusitados que o previsto. A vida é senhora de hábitos arrevesados. Ela não se curva às definições e, tampouco, aos itinerários que traçamos. Aliás, obrigar-nos ao plano B é algo que sempre lhe apraz. É, portanto, essa inexatidão que me obriga a hoje dizer que sim, o lar e a residência de uma pessoa podem estar em logradouros distintos.

Experimentei essa dualidade recentemente e por um tempo que, devo dizer, me fez crescer além do que eu supunha. Tive minha residência, lugar para comer, dormir, escrever e tecer sonhos; e tive meu lar, onde viviam as duas metades de meu coração e para onde eu fugia às menores pausas. E acontece que ganhei um presente daqueles: a oportunidade ímpar de unir meu lar à minha moradia. Não é maravilhoso?

Ora, não seria esse um processo automático? Para alguns, talvez; mas para mim, será necessário transformar o lar em minha moradia outra vez. Se lar é recanto onde o coração fica confortável como quem usa pantufas num dia frio, casa é onde as roupas deixam as malas, onde o tapete está sempre ao lado da cama, é para onde migram os livros, o conjunto de canecas favoritas, os porta-retratos os hábitos e o cotidiano.

A isso, as pessoas costumam dar o nome de mudança - o que por si só já traz um quê de incômodo. Somos muito aferrados à zona de conforto, o que torna o novo um estopim para o temor. De maneira que, ao invés de dizer que tenho uma mudança para fazer, prefiro acreditar apenas que tenho um lar ao qual me achegar.

Timão e Pumba me permitam um acréscimo: lar é onde a gente descansa o bumbum; mas é também onde aquecemos e repousamos o coração.

Beijinhos
Fê Coelho

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