quinta-feira, 4 de julho de 2013

Correntes



Meu telefone vibrou. Opa! Mensagem. Fui verificar o que era. Poxa vida, mais uma corrente... Quem nunca passou por isso, que envie as primeiras cópias para quinze pessoas e evite uma desgraça de proporção continental.

Se tem algo que me faz sentir preguiça, essa coisa é a tal da corrente. E é desafeto antigo. Entra ano e sai ano, mudam-se as formas de comunicação e elas permanecem lá, circulando, circulando e azucrinando as ideias da gente. Acho que se um dia as teorias da conspiração se confirmarem e realmente ocorrer uma guerra nuclear, as baratas repassarão correntes umas para as outras. Tudo o que eu me pergunto é "por que, gente? Por que?"

 Meus primeiros contatos com essa forma de azucrinação ocorreram ainda na infância. Naquela época, as correntes viajavam por quilômetros, de carona nas bolsas dos carteiros. Chegavam, não me lembro se com ou sem destinatário, e traziam consigo instruções muito específicas: faça vinte cópias; anexe uma nota de cinco mil cruzeiros; encaminhe para vinte pessoas em até sete dias; não guarde essa cópia; guarde essa cópia dentro da gaveta de meias por cinco luas novas; queime essa cópia da direita para a esquerda, embaixo do chuveiro. Tudo bem, exagerei; mas eu me lembro bem de que havia uma lista de pelo menos sete itens a serem cumpridos.

Junto com as correntes, chegavam promessas de bonança sem fim a quem as repassasse. Zé das Couves enviou a corrente e ganhou na loteria. João Leitão esqueceu de repassar a corrente e foi à falência. Desesperado, enviou cartas ao dobro de pessoas e - vejam só, que maravilha! - achou um poço de petróleo no meio do sertão. Mas o pior das correntes era a parte do agouro. Eu tremia diante da possibilidade de que pudéssemos morrer todos de uma vez só, se não passássemos o azar para o próximo.

Fico aqui imaginando como tudo isso começou. Alguém sabe me responder? Pensando de forma lógica, e supondo que correntes não se materializam do nada, só me resta concluir que alguém nesse mundo separou um tempo para escrever um texto destinado a - como é que eles dizem mesmo? - rodar o mundo todo por anos a fio. O autor devia gargalhar até a barriga doer, pensando em quanta gente ia passar aquela história sem pé nem cabeça para frente. Ah sim. E tem a parte em que eles diziam que a corrente nunca foi quebrada. Engano, companheiro. Chegou em mim, já era!

Nossa Senhora da Correntinha que me perdoe, o Instituto dos Desvalidos também. Que o Whatsapp passe a cobrar uma fortuna; que o Facebook fique preto com bolinha roxa; que todas as contas de e-mail do mundo sejam desativadas; pouco me importa. Não repasso corrente! Não vou dizer que nunca tenha feito isso. Houve um tempo em que eu era um pouco mais crédula, ou mais medrosa, vá saber. Mas sou uma pessoa regenerada, acreditem.

Se minha vida estaria melhor, caso houvesse repassado as correntes do finado MSN? Vá saber. Mas nesse ponto, tenho que concordar com Aslam - o Grande Leão de Nárnia: "dizer o que teria acontecido? Não, a ninguém jamais se diz isso."

Independente de ameaças ou bonanças, eu e correntes não nos damos bem. Não as repasso, nem arrasto. E fim de papo.

Beijinhos
Fê Coelho

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