quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pausa criativa - um momento de aprendizado



Escrever é metade o que você diz ao mundo e metade o que você ouve dele. É uma espécie de conversa contínua com o que existe e com o que se imagina, um equilíbrio constante entre doar e receber; um toma lá dá cá que embala os pensamentos e permite que os sonhos se mostrem. Não que seja fácil ou indolor. Muitas vezes escrever é um revisitar de conceitos, fatos, expectativas, dores, alegrias e frustrações.  Outras vezes não é nada disso. Escrever pode ser apenas uma forma de apascentar palavras irrequietas, traduzindo leveza, mansidão e boas ideias.

Fato é que acredito ser fundamental a existência de pausas entre os períodos de doação. Se uma pessoa só pode falar daquilo que transborda em si, não creio que bons textos possam sair de criaturas exauridas, estressadas e vazias de sua própria companhia. Sou do tipo que não consegue escrever nem o bê-a-bá, se estiver saturada com pensamentos gastos e rotos pelo uso excessivo. Minha mente funciona como uma espécie de mola, que precisa de pequenos alívios, momentos em que eu reduzo a pressão, para que as ideias se renovem.

E foi por isso que eu instituí para mim mesma pequenos momentos do que eu chamo de pausa criativa. Descobri uma coisa recentemente: sinto saudades de mim mesma. Sinto falta de estar em minha própria companhia, em silêncio, apenas observando as pessoas, os lugares, ouvindo os sons, me atentando às mudanças de luminosidade e temperatura. Necessito de instantes para me ligar aos meus próprios pensamentos, sem a necessidade de transmiti-los a ninguém. Preciso me levar para passear, para jantar ou o que quer que seja. Isso me refaz, me alimenta e me coloca de volta nos trilhos.

Hoje fui ao parque. Sentei-me próximo ao lago artificial e observei. O vento fazia pequenas marolas na água  refletindo o ocaso. Havia várias pessoas correndo, conversando e rindo. Todas alheias a mim e eu retribui agradecida o favor. O que na verdade me encantou foi observar os patos, que já se iam recolhendo sabe Deus para onde. Nadavam todos eles em fila indiana, grasnando, batendo asas e enchendo o fim de tarde com esse barulho que, naquele momento, para mim, representava a própria tranquilidade. Respirei, senti a temperatura caindo de mansinho, sorri. Encaixei uma ou duas ideias e pensei que todas as pessoas acabam por seguir o seu curso. Ora, ninguém diz aos patos o que fazer. Ainda assim, eles o fazem.

Acredito sinceramente que cá dentro de nós existe algo que nos diz em que fila devemos entrar. Creio que de alguma maneira, todos encontramos nosso rumo, nossa rota e aquilo que nos fará feliz. Não consigo deixar de lado a crença de que para cada um há o momento propício, a forma adequada e um destino certo. Alguns chamam isso de coincidência. Eu gosto de chamar de a Mão de Deus.

Beijinhos
Fê Coelho

1 comentários:

Marilia Ferrer disse...

Perfeito!

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