Durante
muito tempo, eu imaginei que deveria ter uma coleção. Sempre supus
que fosse algo para se orgulhar, algo cultivado e querido, guardado
com carinho num canto especial de casa, algo para se mostrar para as
visitas. Via minhas amigas com suas coleções enormes, perfumadas e
multicoloridas de papel de carta e pensava “Poxa vida! Eu devia
colecionar alguma coisa”
Acontece que o tempo passou e nada disso ocorreu. Todas as minhas tentativas de juntar os papéis de carta foram para o brejo. Principalmente porque eu sempre encontrava alguém muito querido para quem eu quisesse mandar um bilhete. E, claro, esse bilhetinho deveria ser escrito no meu melhor papel. Porque eu, desde girino, sempre tive essa coisa de dar o que eu tenho de melhor para as pessoas. Enfim. Minha coleção de papeis de carta foi um solene fiasco.
Partindo dessa experiência, decidi que coleções poderiam ser perda de tempo, até sentir uma vontade enorme de colecionar Matrioshkas - aquelas bonecas russas que vão saindo uma de dentro da outra. Acredito que esse desejo apareceu no dia em que percebi que elas são a melhor metáfora que eu poderia encontrar para os seres humanos: pessoas dentro de pessoas. Porque na verdade, tudo o que se vê de alguém é a casca, aquilo que é vendido. O que se sabe sobre o outro é aquilo que ele permite que se saiba.
Mas
não se engane. Cada um de nós guarda tantas outras versões de si
quantas forem possíveis, cada uma com seu tamanho e seu encanto. E
isso é belo. Belo no sentido de que nunca se sabe de quantas camadas
uma pessoa é feita. Nunca se sabe o quão complexo um ser humano
pode ser, até que você decida conhecê-lo.
Trata-se
de um processo de descoberta delicioso, com suas boas e más
surpresas, com seus aprendizados e suas benesses. E foi pensando
nisso, que descobri a coleção que pretendo realmente fazer.
Não
abandonarei a ideia de ter algumas bonecas russas. Mas o que desejo
mesmo colecionar são memórias. Quero juntar pensamentos, lugares,
situações, risadas, cheiros, vozes, fotos, abraços, imãs de
geladeira e tudo o que me ajudar a fixar minhas memórias. Quero
adesivar os lugares por onde passo em minhas retinas, para que sempre
me acompanhem, para que estejam disponíveis para quando eu precisar
deles.
Quero lembranças que me façam sorrir quando meus dias se tornarem tenebrosos. Porque descobri que esses períodos sempre aparecem e que é um tolo aquele que passa a vida na esperança de não sentir-se nostálgico ou triste. Quero ferramentas para lidar com a dureza desse abrir e fechar de olhos que é a vida. Quero colecionar memórias, para enfeitar o Fantástico Mundo de Fernanda: um lugar maravilhoso, para onde eu gosto de ir e onde sempre me sinto em paz, lá onde o pensamento faz a curva.
E será com muito orgulho – espero em Deus – que vou mostrar minha coleção de memórias para minhas filhas e os filhos de minhas filhas. Vou poder contar histórias e falar de coisas que aprendi, de coisas que vivi e dar conselhos vãos. Espero sinceramente ter muitos itens em minha tão querida coleção e poder me orgulhar desse ato divino, sofrido e tão recompensador que é Viver.
Desejando
exatamente o mesmo a você, leitor querido, me despeço.
Beijinhos
Fê
Coelho
1 comentários:
Que legal!
Ótima semana,
bjs
Mih
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