Uma coisa me intriga há
um bocado de tempo, desde o dia em que pela primeira vez pendurei uma
bolsa em meu ombro: como é possível que papéis se multipliquem com
tanta eficácia? Desde então, tenho observado algumas coisas e
elaborado algumas hipóteses que gostaria de compartilhar com vocês,
no intento de receber a solidariedade feminina e a compreensão
masculina.
Bolsas são um
acessório muitíssimo importante. Elas compõem o visual, ocupam as
mãos quando não sabemos o que fazer delas e carregam dentro de si
uma amostra de nosso mundo – itens que vão desde documentos,
maquiagem, fio dental, chicletes, remédio para dor de cabeça,
presilhas de cabelo, comprovantes de pagamento e amuletos até
chupetas, fraldas descartáveis, mudas de roupa infantil e até a
chave da porta dos fundos da casa da mãe de uma amiguinha da sua
filha que ela conheceu no balé. E, claro, papeizinhos.
Toda bolsa contém
papeizinhos. Essa deve ser uma das leis que regem o universo. É uma
verdade inescapável. Você pode retirá-los de lá incansavelmente
e, quando olhar de novo, haverá mais deles. Talvez eu esteja certa,
quando digo que os papeizinhos se reproduzem. Basta fechar a bolsa e
a bagunça começa. Quando há mais de um papelzinho, eles procriam
por reprodução sexuada. Aí é uma bagunça louca: você guarda uma
propaganda de escola e um cartão de empresa de aluguel de carros e,
quando abre a bolsa, lá está um lindo bebê – um cartão com o
telefone de uma van para levar as crianças à escola. E não fica só
nisso. O cartão da van conhece uma propaganda de loja em liquidação
e logo você descobre que – surpresa! - acabou de ser presenteada
com um folder de concessionária em “queima de estoque”.
Claro que você sempre
pode optar por não carregar papelzinho algum. Coloca o batom, os
documentos e o dinheiro dentro da bolsa e sai. E é aí que você
será apresentada à outra mazela da bagagem de mão: as moedinhas.
Compre alguma coisa, qualquer coisa, e puff: você ganha mais moedas
do que gostaria e, claro, elas vão cair no chão na primeira
oportunidade, no lugar mais cheio de pessoas possível, no dia em que
você estiver de vestido curto. E quando a pessoa não quer
moedinhas? Paga com cartão e lá se vão os papeizinhos outra vez.
Outra característica
especial desse acessório, é a sua capacidade de armazenamento.
Sempre cabe mais coisas do que parece ser possível. E essas coisas
nunca estarão acessíveis caso você precise delas. Bolsas são
buracos-negros: fato incontestável. O que quer que caia lá dentro
pode sumir por eras, até que você desista de precisar do objeto em
questão. Aí ele aparece e te atrapalha a encontrar o que você
passou a querer. E não se engane: se uma mulher consegue guardar
batom, documentos, dinheiro, chiclete, chave do carro e foto três
por quatro das crianças numa bolsa de mão, é coisa fácil guardar
o estepe do carro numa versão a tiracolo.
Fato é que não há
mulher que passe sem este acessório. Somos apaixonadas por bolsas e
precisamos (do verbo necessitar) de várias, para sempre encontrar
algo que estava perdido há anos. Afinal de contas, o que é a vida
sem algumas boas surpresas?