segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pedra e Flor: reflexões sobre ser Enfermeira.



A enfermagem é a arte e a ciência de cuidar; isso é sabido. O que eu ainda não sabia é que a enfermagem, como arte ou ciência, é obra que leva a vida toda sendo construída.  Há coisas e fatos que aprendi durante meus cinco anos em período integral de faculdade. E há outras tantas coisas que compreendi em meus quase nove anos de profissão. Há coisas que foram fáceis de aprender e outras com as quais luto até hoje. E tremo em pensar sobre o quanto ainda há para saber, fazer e sentir.

Percebi - e ando me debatendo com esse fato nos últimos dias - que o enfermeiro é muitas vezes o olho de outro profissional sobre o paciente. Como estamos lá em tempo integral, somos quem decide se algo é simples de se resolver, com os recursos de que se dispõe na hora, ou se é momento de chamar outro profissional. Creiam: nem sempre é fácil fazer isso. Para saber a quem e quando chamar, é preciso conhecimento e discernimento. Reconhecer as grandes e pequenas necessidades daqueles sob nossos cuidados e garantir para que elas sejam atendidas é algo laborioso, que pode nos custar, em alguns casos, até a paz de espírito.

Entendi que não há limite para o que se pode aprender. Academicamente falando, ou não. Cada contato com uma pessoa é o momento oportuno para crescer; não importa se como profissional ou como ser humano. Um bom enfermeiro cresce. O tempo todo. E usa essa capacidade em prol dos que se confiam a ele.

Descobri que muitas vezes, pouco é tudo o que podemos fazer; contraditoriamente, nesses momentos, pouco pode querer dizer exatamente isso: tudo. Não é fácil ouvir os agradecimentos de filhos cuja mãe você não pôde salvar. Esse é o tipo de coisa que dói de um jeito estranho. Dói até você compreender que as pessoas morrem, mas que a maneira com que foram tratadas até que isso aconteça é fundamental. Dói até você entender qual é o seu papel diante de cada par de olhos com os quais você cruza. E até você pensar que aprendeu e se encontrar com uma nova dor, fruto do inesperado. E até você entender que, muitas vezes o coração do enfermeiro é remendado; mas continua acolhedor.

Compreendi que um novo trabalho é uma nova oportunidade; um caminho a trilhar, com suas particularidades, surpresas, vitórias e agruras. E entendi que um antigo trabalho será sempre uma escola, herança e origem para a qual olhar sempre que necessário. No fim das contas, acolher o futuro e honrar o passado continua sendo um bom meio de vida.

Aprendi com a dor, com a incerteza, com a beleza que se esconde bem longe do óbvio. Tive como mestres a convivência de pessoas, o que elas fizeram, o que deixaram de fazer, o afeto e a falta dele. Aprendi com o fazer, com o agir, o ouvir, o esperar, o observar, o sentir. Aprendi muito. Em cada momento de doação, em cada segundo de incerteza e ao final de cada dia, com a cabeça no travesseiro, certa de minha sorte por estar saudável.

Lembro-me ainda das palavras de um dos meus mestres na faculdade, o Dr. Marcelo Medeiros. Certa vez ele nos alertou que um dia seríamos pedra e, no outro, janela. Nunca me esqueci disso. Nunca deixei de pensar que num dia eu cuido e noutro posso estar ali, frágil, janelinha da Silva. E ainda me espanto com a beleza da profissão que exerço: uma que pode ser pedra, mas que opta de todo coração por ser flor.

Feliz dia do Enfermeiro a todos os meus colegas.
Me orgulho da profissão que exercemos.
Beijinhos,
Fê Coelho.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Toda mãe



Existem coisas que acontecem com tanta gente, que acabo pensando que ocorrem com todo mundo. Existem conceitos tão arraigados, que eu acabo crendo serem parte de uma verdade universal. Sei que nem é isso que ocorre, mas gosto de pensar que todas as mães têm algo em comum, além do fato de terem filhos.

Penso que toda mãe tem consigo um amor desvelado, daqueles que não consegue decidir entre um filho ou outro; nem entre os filhos e a própria vida. Penso que esse amor é uma espécie de motor de arranque para os dias e para as decisões. E creio, também, que toda mãe em algum momento faz aquilo que tem que ser feito - apesar da dor, da dificuldade ou da aparência impossível.

Toda mãe, aqui na minha cabeça, tem olhos aguçados - daqueles que veem sujeira atrás da orelha e tristeza escondida atrás do sorriso. Toda mãe capta nuances que ninguém mais percebe, porque o amor amplifica a visão. Ela sabe a hora de abraçar e de dar a bronca; e se não sabe, vai tateando com o coração até descobrir. Ela enxerga o perigo que ninguém mais vê, o amigo que nem é tão amigo assim e o potencial que nem mesmo a gente sabe que tem.

Toda mãe, no meu entender, - e quero muito crer que seja verdade, ou seria realmente muito triste estar num barco sozinha - já errou tentando acertar e já acertou com medo de errar. Todas nós já nos sentimos perdidas, frustradas, amedrontadas e recompensadas na mesma medida. Toda mãe já sentiu dó e se preocupou com a passagem do tempo. Toda mãe já chorou e sorriu; e já sentiu o dia se iluminar à vista de um sorriso.

Creio que são essas coisas que fazem das mães uma espécie de instituição, algo sólido em que se pode confiar. Acredito que essa série de intersecções nos aproximam e criam um dialeto de amor, que só se compreende de fato quando se gera um filho - no ventre ou no coração.

Porque o que fala por nós, mães, é um afeto grande demais para ser traduzido. O que nos move é um coração cheio de um amor transformador, capaz de se doar e de perceber a beleza em frações de segundo.

Penso que toda mãe consegue guardar consigo pequenos trechos de eternidade. Porque toda mãe eterniza consigo as memórias mais refinadas de amor.

Feliz dia das mães!
Beijinhos
Fê Coelho.
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