A enfermagem é a arte e a ciência de cuidar; isso é sabido. O que eu ainda não sabia é que a enfermagem, como arte ou ciência, é obra que leva a vida toda sendo construída. Há coisas e fatos que aprendi durante meus cinco anos em período integral de faculdade. E há outras tantas coisas que compreendi em meus quase nove anos de profissão. Há coisas que foram fáceis de aprender e outras com as quais luto até hoje. E tremo em pensar sobre o quanto ainda há para saber, fazer e sentir.
Percebi - e ando me debatendo com esse fato nos últimos dias - que o enfermeiro é muitas vezes o olho de outro profissional sobre o paciente. Como estamos lá em tempo integral, somos quem decide se algo é simples de se resolver, com os recursos de que se dispõe na hora, ou se é momento de chamar outro profissional. Creiam: nem sempre é fácil fazer isso. Para saber a quem e quando chamar, é preciso conhecimento e discernimento. Reconhecer as grandes e pequenas necessidades daqueles sob nossos cuidados e garantir para que elas sejam atendidas é algo laborioso, que pode nos custar, em alguns casos, até a paz de espírito.
Entendi que não há limite para o que se pode aprender. Academicamente falando, ou não. Cada contato com uma pessoa é o momento oportuno para crescer; não importa se como profissional ou como ser humano. Um bom enfermeiro cresce. O tempo todo. E usa essa capacidade em prol dos que se confiam a ele.
Descobri que muitas vezes, pouco é tudo o que podemos fazer; contraditoriamente, nesses momentos, pouco pode querer dizer exatamente isso: tudo. Não é fácil ouvir os agradecimentos de filhos cuja mãe você não pôde salvar. Esse é o tipo de coisa que dói de um jeito estranho. Dói até você compreender que as pessoas morrem, mas que a maneira com que foram tratadas até que isso aconteça é fundamental. Dói até você entender qual é o seu papel diante de cada par de olhos com os quais você cruza. E até você pensar que aprendeu e se encontrar com uma nova dor, fruto do inesperado. E até você entender que, muitas vezes o coração do enfermeiro é remendado; mas continua acolhedor.
Compreendi que um novo trabalho é uma nova oportunidade; um caminho a trilhar, com suas particularidades, surpresas, vitórias e agruras. E entendi que um antigo trabalho será sempre uma escola, herança e origem para a qual olhar sempre que necessário. No fim das contas, acolher o futuro e honrar o passado continua sendo um bom meio de vida.
Aprendi com a dor, com a incerteza, com a beleza que se esconde bem longe do óbvio. Tive como mestres a convivência de pessoas, o que elas fizeram, o que deixaram de fazer, o afeto e a falta dele. Aprendi com o fazer, com o agir, o ouvir, o esperar, o observar, o sentir. Aprendi muito. Em cada momento de doação, em cada segundo de incerteza e ao final de cada dia, com a cabeça no travesseiro, certa de minha sorte por estar saudável.
Lembro-me ainda das palavras de um dos meus mestres na faculdade, o Dr. Marcelo Medeiros. Certa vez ele nos alertou que um dia seríamos pedra e, no outro, janela. Nunca me esqueci disso. Nunca deixei de pensar que num dia eu cuido e noutro posso estar ali, frágil, janelinha da Silva. E ainda me espanto com a beleza da profissão que exerço: uma que pode ser pedra, mas que opta de todo coração por ser flor.
Feliz dia do Enfermeiro a todos os meus colegas.
Me orgulho da profissão que exercemos.
Beijinhos,
Fê Coelho.