Sem querer menosprezar todas as descobertas
científicas feitas até hoje, preciso dizer que conheci uma nova
força da natureza. Seu nome? Julieta – criatura imaginária e
imaginativa, notívaga por capricho, geniosa por não saber outra
forma de ser, pan-polar porque acha que ser bipolar já está meio
fora de moda, leitora compulsiva, criativa por nascença, carente por parte de pai, exigente por parte de mãe, detentora das minhas
ideias e determinada a fazer de mim o que bem quer.
Descrever o aspecto físico da Julieta é tarefa
quase impossível, porque ela muda como o formato das nuvens. Para
ser mais específica, acho que nunca soube qual é a sua verdadeira
aparência. Algumas vezes, a danada me aparece aqui em casa usando um
vestido justíssimo de tecido brilhoso, com cabelo ruivo ondulado,
luvas sete oitavos e delineado nos olhos; outros dias ela surge do
nada, pulando feito uma pipoca, com cabelo preso num rabo de cavalo,
short jeans desfiado e tênis, mascando chiclete e gesticulando feito
doida. Já quis ser velha, já virou criança. Já cismou de usar vestido longo de época e citar Jane Austen. De tudo ela já fez,
exceto se conformar.
Quando a Julieta resolve que é hora de escrever, eu que me vire, porque não há forma de convencê-la do
contrário. Meia noite, duas horas, cinco da tarde, não importa. Às
vezes ela sai de algum passeio e pensa “bem que eu poderia ir ver a Fernanda”. E me acha, onde quer que eu esteja,
não importa a atividade, a disposição ou o estado de espírito. Quando a Julieta decide que é hora de produzir, é uma loucura.
Acontece que ela está pouco se lixando
para o mundo dos adultos. Não quer saber se eu estou
trabalhando, comendo, andando de metrô, dirigindo ou cambaleando de
sono. O que ela quer é ser ouvida. E obedecida. Aí começa a jogar todas as ideias de uma vez no chão. Abre todas as minhas gavetas mentais e eu que me vire pra lidar com a bagunça. Vou catando daqui e dali algum trecho, uma fala, um pensamento e juntando tudo até formar um texto - que ela avalia, corrige, comenta e depois aprova -ou não.
Há dias, entretanto, em que ela se esconde. Sai para um passeio com a
Dona Expedita, vai às compras com a
Isaura ou simplesmente sai andando por aí, observando as pessoas, os lugares, as paisagens e tendo ideias. Nesses dias, posso procurar o quanto queira, a Julieta simplesmente não aparece. Só lá pela meia noite, quando eu já desisti de implorar e estou pronta pra dormir. Aí eu digo que estou cansada e preciso de repouso. Ela me olha com uma cara de cachorro que caiu da mudança, dá duas ou três piscadinhas e explica que teve uma ideia ótima - uma que pode não estar disponível quando o dia amanhecer.
Nem preciso dizer o que acontece em seguida, não é? Sou uma alma fraca, leitor querido. A Galera Aqui de Casa - essa maloca de personagens doidos, geniosos e absolutamente adoráveis - me tem nas mãos e trabalha comigo como quem brinca de massinha.
Beijinhos
Fê Coelho