quinta-feira, 21 de junho de 2012

Uma janela chamada Felicidade



Alguns conceitos gostam de se revelar assim, do nada, numa manhã de quinta-feira qualquer. São ideias fugidias que vêm meio sem palavras, que se anunciam tão rápido quanto se retiram e podem fazer valer o dia. Estou falando de breves momentos de clarividência, daquele instante mágico no qual se compreende algo importante. Algo com o poder de mudar conceitos, fazer pensar ou - no mínimo - fazer sorrir.

Foi assim hoje. Sem que nada de especial (em tese) acontecesse, consegui formular um conceito do que para mim é a felicidade. Veja bem, estamos tratando de uma manhã sem qualquer atrativo especial: a primeira do inverno, um dia paradoxalmente quente, com céu limpo, sem vento ou novidades. Eu estava na cozinha da casa de meus pais, um lugar conhecido desde sempre, por cuja janela se filtra uma luminosidade dourada capaz de desenhar pequenos quadradinhos de luz no chão molhado, cheirando a produto de limpeza e tranquilidade. Minha filha correu para longe de mim, após devolver-me o copo vazio e ainda morno pelo leite. Ouvi música e entendi: a felicidade é uma janela que fica sempre aberta, mas sobre a qual nem sempre nos debruçamos.

Esse pode parecer um conceito estranho, mas para mim calhou perfeitamente. Visualizei-a como se estivesse exatamente à minha frente: uma janela aberta, por onde passa luz dourada e oblíqua, em cujos raios se pode ver suspensos os grãos de poeira num eterno balé. Mais adiante um campo, verde, florido e vivo. É como se ela sempre estivesse lá, mas passássemos apressados demais para prestar-lhe atenção. Até que um dia, numa manhã comum de uma quinta-feira qualquer, por algum motivo, eu tenha resolvido demorar-me à sua frente; como se houvesse resolvido me aproximar e olhar o que está contido em minha própria felicidade.

E me vi cheia de motivos para estar feliz. Pensei em minha família unida, bela e em paz; recordei os amigos, meu trabalho, ouvi a risada de minhas filhas e sorri. Estiquei meus braços, enchi os pulmões de ar, movimentei as pernas, peguei um brinquedo jogado no chão e agradeci. Senti-me profundamente grata pelo que sou e tenho, pela família em que fui inserida, pelas raízes que compartilhamos, pelos princípios que guiam minha existência e por cada uma de minhas memórias.

Penso que deve ser algo realmente triste, quando a pessoa se fecha muito demoradamente na escuridão do pessimismo, das reclamações e se foca sempre naquilo que falta. Isso faz com que não se consiga suportar a luminosidade de dias delicadamente felizes. Acredito que fizeram à felicidade uma grande injustiça, elevando-a a um patamar inatingível de bens ou sensações psicodélicas, quando - a bem da verdade - ela está o tempo todo esperando ser apenas reconhecida.

E é esse o ponto em que quero chegar, finalmente. A felicidade é simples por essência. Delicada e mansa, ela não necessita de tantos adereços quanto se prega por aí. Não é preciso que se faça da vida uma Drag Queen de anseios e sensações. Porque para ser muito sincera, acredito que a felicidade seja mesmo uma janela sempre aberta. Tudo o que precisamos fazer é escolher nos debruçarmos sobre ela.

Beijinhos
Fê Coelho

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Carta aberta à melhor irmã do mundo



Conheço você desde que me entendo por gente. Aprendi a andar ao seu redor, ou seria para fugir de você? Aprendi a falar para te pedir alguma coisa, ou para contar à mamãe alguma maldade que você tenha feito comigo. Vá saber. O que importa mesmo é que em todos os marcos realmente importantes de minha vida, sua figura sempre se fez presente. Você sempre esteve lá, com esses seus olhos cor de mel e esse sorriso bondoso que quase destoa numa cara de onça brava que só você sabe fazer. E quando penso em nós duas, embora sejamos tão diferentes em tantos aspectos, é como se pensasse em uma coisa só, indivisível, única, uma bagunça que a gente entende tão bem e que não se desfaz.

Com você, amoreco, aprendi a brigar, a dividir e ceder. Aprendi a ouvir, a dar colo, a ser companheira e fofocar. Mas eu diria que uma das coisas mais divertidas que aprendi contigo foi não brigar. Recordo-me exatamente, como se fosse há quinze minutos, de ver sua imagem refletida no espelho, fula da vida, enquanto me ouvia dizer "olha, eu sei que você quer brigar, mas tenho uma novidade: eu não vou brigar. Se quiser, brigue sozinha". Nesse dia, adquiri o hábito de resolver se quero brigar ou não. E sei que te matei de raiva um milhão de vezes com ele. Acontece que brigar contigo nunca foi algo quem me agradasse, porque a bem da verdade, tudo o que eu sempre quis foi a sua aprovação.

Sempre te admirei, amore. Sempre vi em você um exemplo. Você era algo, assim, como uma força da natureza, nunca se conformando muito bem com as coisas, dando um jeito para que os resultados se moldassem à sua maneira.

E o tempo passou. E nessa sanfona maluca da vida, que afasta e aproxima as pessoas, de alguma maneira, sempre estivemos unidas por um amor que não se dissolve.

Hoje sei que tenho em você um lugar seguro para onde ir, sempre que quiser e precisar. Tenho em você uma amiga extremamente fiel, uma pessoa que sempre me lembrará quem eu sou e do que sou feita. Estou falando de raiz, maninha. Daquilo que realmente importa. Sei que sempre terei em você uma pessoa divertida com quem rir e alguém com quem praticar minhas patéticas tentativas de ser um remendo de psicóloga.

Te admiro muito. Pelas pequenas coisas e pelas grandes. Te admiro pela garra com que você abraça a vida, com que desempenha seu trabalho e pelo amor com que se faz mãe. Te admiro pelas palavras doces que entrega de graça, pelo carinho que tem com todos à sua volta, pela maneira com que põe a mesa e decora a casa e por todo o resto.

Obrigada pela amizade, pela fidelidade, por todo o seu amor e por todo o resto. Obrigada por meus sobrinhos e por me ensinar a beleza de se cuidar de duas crianças lindas e estragá-las à vontade - afinal de contas, as tias estão aí para isso mesmo.

Te amo muito mais do que poderia caber em um texto curto escrito por uma pessoa de vocabulário reduzido.

Beijo gigante.
Feliz Aniversário!




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