Estava aqui olhando as pessoas postarem citações e o pensamento voou. Foi inevitável, como tantas vezes acontece e me vi no meio de um questionamento: será que, quando cita um autor, a pessoa tem noção do que isso pode representar?
Desde a minha infância, passando pela adolescência e chegando à idade adulta, um desejo sempre se fez presente: saber cantar. Eu gosto de música e me sinto feliz cantando. Mas, bem, não ocorreu que eu me tornasse uma cantora. Para ser sincera, não posso nem dizer que encontre facilmente o tom de uma música.
Então é isso. Não sou uma cantora. Não aconteceu de eu me tornar o que eu tinha imaginado. Por outro lado, ocorreu o inesperado: as palavras me encontraram. E, se digo isso, é porque foi exatamente o que aconteceu. Não saí por aí tentando escrever nadica de nada, simplesmente aconteceu. E, depois de ocorrido, não há como voltar atrás. Virei escritora. Fazer o que, se não consigo mais viver sem isso? Remediar de que jeito, se vez ou outra uma crônica fica batendo na porta da consciência, pedindo pra voar?
E é nesse ponto que quero retomar o pensamento índice do texto. Você aí, leitor, tem ideia da importância que tem para um ser que escreve? Você imagina o quanto um autor te aguarda? Tem noção de que o correr de seus olhos por nossas linhas é uma visita muito esperada? E, dito isso, compreende que a citação é o mesmo que elogiar a comida da avó, ou falar bem do tratamento recebido na casa de um amigo?
Quando vejo palavras entre aspas ladeando um nome, imagino: será que um dia vai acontecer comigo? E me lembro de ter lido em algum lugar que o Caio Fernando Abreu queria ser amado por algo que houvesse escrito. Acho que a coisa toda passa por aí, porque, bem ou mal, todo autor se entrega nos textos. Não importa se a obra é de ficção ou a emissão expressa de opiniões, o autor está lá - nos pensamentos, nas sensações, na escolha das palavras. Um texto é uma espécie de radiografia da alma do autor, que pode até estar desfocada, mas que ainda assim é uma imagem.
E fico me perguntando: quando é que vou escrever algo digno de aspas? Será que vou deixar de engatinhar e me tornar uma escritora bípede, alta o suficiente para alcançar os dois tracinhos acima das palavras?Acho que essa resposta só poderá ser dada pelo tempo e pelos leitores.
Enquanto as aspas não vêm, vou fazendo fotos escritas de mim mesma, colocando um pensamento aqui e outro acolá, brincando com as palavras e me divertindo com elas. Elas me encontraram, agora me aguentem.
Beijinhos
Fê Coelho