Faz um tempo, me disseram que eu penso demais. Na época - como em tantas outras situações - eu não compreendi as implicações desse fato. Ainda hoje não compreendo e acredito que essa seja a minha sina: estar sempre um passo e vários pensamentos atrás de uma conclusão óbvia.
Juro que, quando fui informada sobre minha condição de "pensadora em excesso", fiquei imaginando que isso não poderia ser ruim. Ora, uma mente inquisidora tende a ser mais interessante, certo? Fato é que meu cérebro insiste em fazer conexões inusitadas, geralmente relacionadas ao proceder das pessoas, a certos valores e condutas e, bem, a pensamentos. Podem imaginar o que se passou comigo quando me exortaram a ligar a vida no modo "foda-se"? (perdoem-me os leitores mais sensíveis, mas a exortação foi exatamente essa)
Meu cérebro quase pirou! Fiquei dias e dias imersa em elucubrações sobre o
motivo de eu não conseguir me desligar
dos meus motivos. Comecei a escarafunchar meus recôndidos mais ocultos, à procura de respostas e, quando dei por mim, estava pensando muito mais no modo "foda-se" do que no modo normal.
Talvez o melhor seja me aceitar como sou: uma pessoa que gosta dos detalhes, ou do inusitado - não sei ao certo. Apesar de ser expansiva ao quadrado - e por esse motivo passar a impressão de superficialidade -, eu gosto mesmo de observar as pessoas. Encanta-me prestar atenção aos modos, ao jeito de falar e às particularidades de cada ser humano. Lembro-me que quando eu era criança, gostava de olhar para os carros cheios de adultos e crianças que eu não conhecia e imaginar quem seriam aquelas pessoas, onde morariam e o que gostariam de fazer. Acredito que isso acabou se tornando um hábito, mania, modo de vida, TOC ou coisa que o valha.
De qualquer maneira, compreendo que isso me alimenta - na mesma medida em que me consome. Porque se, por um lado é cansativo pensar demais (ah, como eu queria uma caixa do nada), por outro é isso que me mantém "na ativa". É por isso que consigo escrever: porque a escrita vem do ato de abrir as comportas, quando a realidade ameaça transbordar. E não há outra maneira de encontrar sobre o que discorrer, a não ser vivendo, sentindo, pensando, pensando e pensando.
As pessoas que escrevem têm a mente inquieta. Fato (ou fardo). O que não sei, é se isso é causa ou consequência da escrita.
De mais a mais, essa questão talvez esbarre em outra, sobre a arte e a vida. De minha parte, acredito que a arte imita a vida, visto que se alimenta dela. E a vida? Ah, a vida sonha em ser a arte. E talvez essa seja uma forma muitíssimo bela de se viver.
Beijinhos
Fê Coelho