sexta-feira, 29 de abril de 2011

Rala, superego, que meu id vai passear!


Superego querido.

Você que fica aí entocado em algum lugar escondido da minha própria cabeça, se insinuando vez em quando (ou vez em sempre), me censurando e deixando muito claro o que eu não devo fazer em hipótese nenhuma, sob pena de sanções terríveis, prepare-se.

Não é uma ameaça, meu pequeno déspota interno, o que vou te fazer. É antes um aviso justo de uma pessoa que, por um tempo enorme só lhe deu ouvidos: ponha as barbas de molho, superego, que meu Id anda querendo passear. Sim, essa parte inconsequente, que você deu um jeito de trancafear, de alguma forma andou descobrindo um jeitinho de pôr o nariz de fora. E aí, meu amigo, você já sabe, a confusão está armada!

Vez e outra, quando você está desavisado, ele vem na pontinha dos pés e me sugere que pire, faça algo errado, só pra variar. Vou te contar uma coisa e você acredite: meu id tem uma voz macia, leve e convincente. Ele é muito mais gentil que você, com essa sua cara sisuda. E mais: ele é engraçado! Quando ele se vai, deixando um monte de caraminholas espalhadas pelo caminho, me ponho a rir sozinha. Ele é tão divertido!

Bem. Aí você aparece, trazendo logo uma vassoura, pá e material de limpeza, junta todas as possibilidades que, tão caprichosamente o meu id espalhou, me olha com uma cara de reprovação e me põe de castigo. E o pior de tudo: eu vou! Bufando de raiva, mas vou.

Sei que nesse exato momento você deve estar aí esfregando as suas mãos, sentado em uma poltrona de espaldar alto e rindo da minha cara.

E é exatamente por isso que vou te avisar mais uma vez: amarre as calças, superego querido, que meu id anda passeando por aí. E mais: existe uma chance que eu o deixe livre de vez em quando!

Beijinhos
Fê.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pensamento excessivo?


Faz um tempo, me disseram que eu penso demais. Na época - como em tantas outras situações - eu não compreendi as implicações desse fato. Ainda hoje não compreendo e acredito que essa seja a minha sina: estar sempre um passo e vários pensamentos atrás de uma conclusão óbvia.

Juro que, quando fui informada sobre minha condição de "pensadora em excesso", fiquei imaginando que isso não poderia ser ruim. Ora, uma mente inquisidora tende a ser mais interessante, certo? Fato é que meu cérebro insiste em fazer conexões inusitadas, geralmente relacionadas ao proceder das pessoas, a certos valores e condutas e, bem, a pensamentos. Podem imaginar o que se passou comigo quando me exortaram a ligar a vida no modo "foda-se"? (perdoem-me os leitores mais sensíveis, mas a exortação foi exatamente essa)

Meu cérebro quase pirou! Fiquei dias e dias imersa em elucubrações sobre o motivo de eu não conseguir me desligar dos meus motivos. Comecei a escarafunchar meus recôndidos mais ocultos, à procura de respostas e, quando dei por mim, estava pensando muito mais no modo "foda-se" do que no modo normal.

Talvez o melhor seja me aceitar como sou: uma pessoa que gosta dos detalhes, ou do inusitado - não sei ao certo. Apesar de ser expansiva ao quadrado - e por esse motivo passar a impressão de superficialidade -, eu gosto mesmo de observar as pessoas. Encanta-me prestar atenção aos modos, ao jeito de falar e às particularidades de cada ser humano. Lembro-me que quando eu era criança, gostava de olhar para os carros cheios de adultos e crianças que eu não conhecia e imaginar quem seriam aquelas pessoas, onde morariam e o que gostariam de fazer. Acredito que isso acabou se tornando um hábito, mania, modo de vida, TOC ou coisa que o valha.

De qualquer maneira, compreendo que isso me alimenta - na mesma medida em que  me consome. Porque se, por um lado é cansativo pensar demais (ah, como eu queria uma caixa do nada), por outro é isso que me mantém  "na ativa". É por isso que consigo escrever: porque a escrita vem do ato de abrir as comportas, quando a realidade ameaça transbordar. E não há outra maneira de encontrar sobre o que discorrer, a não ser vivendo, sentindo, pensando, pensando e pensando.

As pessoas que escrevem têm a mente inquieta. Fato (ou fardo). O que não sei, é se isso é causa ou consequência da escrita.

De mais a mais, essa questão talvez esbarre em outra, sobre a arte e a vida. De minha parte, acredito que a arte imita a vida, visto que se alimenta dela. E a vida? Ah, a vida sonha em ser a arte. E talvez essa seja uma forma muitíssimo bela de se viver.

Beijinhos
Fê Coelho

terça-feira, 5 de abril de 2011

Reflexões sobre viver sozinha


Descobri uma coisa que não tinha como saber antes: a pessoa mais complicada do mundo para se conviver é - acreditem - você mesmo.

Sim, leitor querido. Descobri que, a despeito de toda minha extroversão e de minha "cuca fresca", sou uma chata de galocha, no que se refere ao trato comigo mesma. Porque uma coisa é você desculpar as faltas, brincadeiras e mancadas dos outros; outra bem diferente é ser tolerante consigo mesmo, certo? Sei que tem gente por aí que é autoindulgente em demasia - para não dizer sem consciência - e sei que em alguns momentos a tentação de passar a mão na própria cabeça é grande. O problema é que essa carapuça não amarra em mim, muito embora eu fique olhando para os cordões com cara-de-cachorro-que-caiu-da-mudança.

A sensação de ser obrigada a me tolerar o tempo todo é engraçada: um misto de "ai Jesus" com "vem cá minha nêga". Em alguns momentos, me cobro tanto que nem eu me aguento. Em outros, estou em plena lua de mel comigo, me encho de carinhos, mimos e atenções. O que é ponto comum nas duas situações é que fico agindo como se fosse minha própria mãe: ora me cobro, brigo e esfrego até entrar na linha; ora me encho de tanta manha, que qualquer dia desses dou uma birra de frente para o espelho.

Essa semana, por exemplo, me peguei sendo cri-cri com a organização da casa. Tudo bem que, na onda de faxina em que me encontro, deixar bagunça espalhada pela casa seria quase um oitavo pecado capital. Mas não acho que seja pra tanto. Ferver panos de prato já está um pouco além da medida - pausa para me desculpar com as possíveis donas de casa ofendidas (meninas, sou fã do trabalho de vocês).

O que quero dizer é que passei a me cobrar coisas e atitudes que, em outras ocasiões, não me causavam prurido algum. Exemplificando: não há um só par de sapatos fora do lugar; lavo meu rosto e passo antissinais religiosamente duas vezes por dia; estou caprichando na alimentação, passei a me preocupar com minhas horas de sono, enfim, um monte de coisas que não fazia antes e que agora cismei em fazer.

E sabem de onde parece estar vindo isso tudo aí? Do simples fato de que agora tenho que ocupar meu tempo comigo mesma, basicamente. Vinte e quatro horas de um dia inteiro prestando atenção em mim, é de pirar. Por isso tantas atividades: para que a Fê Coelho e eu possamos nos dar superbem.

Não que minha convivência comigo mesma seja difícil, compreendam, estou acostumada comigo. Entretanto, ocorre que em meio a tantas atenções para com outras pessoas, raramente me sobrava tempo para fazer o mesmo comigo. E parece-me que uma parte altamente exigente de mim resolveu me cobrar os "atrasados" com todas as correções.

Então que seja! Vou me encher, aturar, cobrar e mimar até que a Fê Coelho, versão Beta, tenha terminado a bateria de testes e dê lugar a uma versão melhor de mim. Até lá, segue o seco.

Beijinhos
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